Uma das peças mais conhecidas de William Shakespeare, “Macbeth” já foi adaptada para o cinema por grandes diretores, como Orson Welles, que lançou sua versão em 1948, Roman Polanski, em 1971, e Akira Kurosawa, com “Trono Manchado de Sangue”, de 1957.
Agora, chegou a vez de Justin Kurzel trazer novamente para as telas a trágica história criada pelo brilhante autor de obras como “Romeu e Julieta”, “Hamlet”, “Othelo”, entre outras. Com um elenco fantástico e belíssimas imagens, “Macbeth: Ambição e Guerra” (“Macbeth”) realmente impressiona. Mas poderia ter alçado voos maiores se o filme não ficasse indeciso em sua proposta de querer fazer algo épico ou respeitar a origem teatral da trama.
Ambientada na época medieval, a história acompanha a vida de Macbeth (Michael Fassbender), um general do Exército escocês fiel ao Rei Duncan (David Thewlis). Durante uma batalha, ao lado do amigo Banquo (Paddy Considine), Macbeth tem a visão de três bruxas que lhe dizem que ele será rei de toda a Escócia.
Movido pela ambição, o militar conta o que aconteceu à sua esposa, Lady Macbeth (Marion Cotillard), que o incentiva a fazer tudo o que for possível para que a profecia seja cumprida. Assim, Macbeth trai o Rei e arma um golpe para assumir o poder, usando de artimanhas e da força bruta para afastar aqueles que podem impedir que ele consiga se manter no poder, como o filho de Duncan e seu legítimo herdeiro, Malcolm (Jack Reynor), assim como o nobre Macduff (Sean Harris). Mas a ganância acaba corroendo tanto Macbeth quanto sua rainha, gerando consequências trágicas para todos os envolvidos.
Nesta nova versão do clássico de Shakespeare, “Macbeth: Ambição e Guerra” se destaca pelo cuidado estético do diretor Justin Kurzel (responsável pela adaptação do game “Assassin’s Creed” para o cinema, também com Fassbender e Cotillard).
As sequências de batalha são belíssimas, talvez as mais bonitas do ano, com um vigor que lembra bastante o resultado alcançado por Mel Gibson em 1995, no vencedor do Oscar “Coração Valente”. Além disso, a fotografia é sensacional, especialmente quando toma um tom avermelhado para dar uma impressão de que um mar de sangue atinge a Escócia graças à insanidade que vai aumentando em Macbeth e sua mulher. As locações em terras escocesas e inglesas também chamam a atenção e tornam a trama ainda mais verossímil.
No entanto, o cineasta peca em não saber se permanece enfatizando o caráter épico que utiliza, principalmente na primeira parte do filme, ou se mantém o respeito ao texto de Shakespeare (cujo roteiro de Jacob Koskoff e Michael Lesslie não faz grandes alterações em relação à peça original). O resultado é uma queda de ritmo lá pela metade e a história, embora atraente e instigante, não tem o mesmo pique do início e se arrasta um pouco, o que pode fazer com que o espectador perca o interesse. Felizmente, a situação melhora bastante no seu terço final.
À frente do ótimo elenco, Michael Fassbender tem mais uma grande atuação em sua carreira como Macbeth. O ator dá o tom certo para mostrar o desequilíbrio emocional de seu personagem, que não percebe que está se tornando um tirano semelhante àqueles que combatia no passado e é bastante seguro nos momentos em que tem que declamar monólogos.
Marion Cotillard também está ótima, especialmente nas cenas que demonstram que sua Lady Macbeth está cada vez mais insana e infeliz ao perceber que o poder é capaz de destruir quem não sabe como lidar com ele.
O jovem Jack Reynor não faz feio como o príncipe Malcolm e prova que é capaz de voos mais altos como ator e que não deve se limitar a produções caça-níqueis, como “Transformers: A Era da Extinção”, que fez em 2014. David Thewlis (que pouco aparece), Paddy Considine, Sean Harris e Elizabeth Debicki estão corretos e também dão um brilho especial ao filme.
“Macbeth: Ambição e Glória” vale ser visto não só pelas suas qualidades técnicas, mas também para mostrar que a cobiça pelo poder nunca é uma coisa boa e pode destruir um país inteiro, algo que pode ser visto atualmente no nosso Brasil varonil. Além disso, é importante que obras importantes como as de Shakespeare precisam ser conhecidas por novas gerações, para que possam refletir e aprender, para que erros do passado não se repitam no futuro.
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