Madame Teia não se justifica

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A primeira coisa que se pergunta quando “Madame Teia” foi anunciado pela Sony é por que fazer um filme sobre uma personagem secundária das HQs do Homem-Aranha. A proposta do estúdio é construir um “Aranhaverso” sem o Homem-Aranha, mas tendo personagens coadjuvantes à frente. Mas escolher uma mutante com grandes poderes psíquicos, ao ponto de conseguir prever o futuro, presa a um sistema de suporte de vida composto por um conjunto de tubos com o formato de uma teia de aranha (o que explica seu nome) seria mesmo a receita do fiasco. A menos que se contasse a história de origem. É o que o argumento se propõe. Mas o roteiro sabota.

Tentando sair da caixinha do filme de super-herói, a história se reveste de um thriller de suspense. Cassandra Webb, uma paramédica em Manhattan que desenvolve o poder de ver o futuro, percebe que pode usar essa clarividência para mudar os fatos e salvar pessoas. Em meio a esse processo de descoberta do uso dos novos poderes, três jovens destinadas a se tornar super-heroínas cruzam seu caminho. Cassandra se vê forçada a enfrentar revelações sobre seu passado e precisa salvar as meninas.

Por mais absurdo que pareça o script (qual o filme de super-herói faz todo sentido?), feito com um mínimo de esmero, pode surtir um efeito satisfatório. Mas da forma displicente com que o estúdio tratou essa produção do universo Aranha, a impressão que fica é que “Madame Teia” vinha sendo desenvolvido até que desistiram e a ordem era concluir de qualquer jeito.

A diretora S.J. Clarkson (que tem um episódio da laureada série “Succession” no currículo) parece ter caído de paraquedas no processo e fez o que pôde. A direção é tão bisonha que não é possível que tenha sido mero descaso. É possível que o roteiro de Matt Sazama, Burk Sharples, (ir)responsáveis por outro tropeço da Sony, “Morbius”, além da atrocidade “Deuses do Egito”, e Claire Parker (provavelmente trazida por Clarkson da série “Anatomia de uma Queda”) tenha causado tamanha confusão e embaraço na diretora que se tornou difícil a execução do básico atrás das câmeras.

Dakota Johnson não esconde sua indisposição e má vontade em estar ali, como o faz nas entrevistas de divulgação. Ela diz o texto como se quisesse mostrar para o espectador que entrou na maior roubada de sua vida. Uma protagonista que não defende o papel, nem o filme, e gera zero empatia é 50% da ruína de qualquer obra.

Tudo piora quando a Madame Teia tem como coadjuvantes três adolescentes (na trama, pois na vida real são bem adultas) com uma séria carência de massa encefálica. E o pior, elas são ninguém menos do que Julia Cornwal (que nas HQs é a segunda Mulher-Aranha), Mattie Franklin (outra Mulher-Aranha) e Anya Corazon, a Garota-Aranha. Acontece que suas versões em spandex surgem na tela de maneira tão frustrante e no melhor estilo filme de super-herói dos anos 90. Pobres Sydney Sweeney, Celeste O’Connor e Isabela Merced, submetidas em um filme a todo o constrangimento de uma carreira.

Pensa que a tragédia para por aqui? Ainda tem o vilão Ezekiel Sims. Tahar Rahim nos proporciona o antagonista mais caricato da história das adaptações de quadrinhos em uma atuação de teatro infantil da escola primária. A origem é completamente distinta da vista nos quadrinhos e sua motivação é descabida. E ainda há os efeitos especiais, a edição equivocada…

Coisas boas? Talvez uma ou outra referência aos quadrinhos, mas que não compensam os equívocos.

Por fim, “Morbius” infelizmente encontrou um substituto à altura como a pior coisa que já foi feita no universo do Homem-Aranha nas telonas (e talvez na telinha também). “Madame Teia” não se justifica nem como cinema, nem como parte integrante de um universo, até pelo fato de este ainda não ter mostrado uma unidade (a cena pós-créditos de “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” não conta). A julgar pelo que se viu até aqui desse Aranhaverso live action, a Sony precisa repensar urgentemente a estratégia.

Madame Teia

Madame Teia
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Nota: 3/10 - Muito Ruim
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