Em “Mais Pesado é o Céu” acompanhamos a jornada cheia de percalços traçada por Teresa (Ana Luiza Rios), uma mulher que decide acolher uma criança abandonada, e Antônio (Matheus Nachtergaele). Ela leva a vida difícil que muitos julgam fácil. Ele sonha com uma prosperidade de um emprego certo que lhe fora prometido e que vai se tornando cada vez mais idílica. Os dois se encontraram no caminho e em comum têm as memórias de uma cidade submersa no fundo de uma represa.
O diretor Petrus Cariry se utiliza de uma potente fotografia barroca, executada por ele próprio, para ilustrar um ensaio sobre as incertezas tendo o Brasil profundo como cenário. Antônio vai se apegando ao Menino (nome sem batismo da criança) e na sequência à “mãe”, o que o faz se distanciar de seu objetivo inicial. Teresa precisa mudar sua sina. Ela acaba tendo como espécie de conselheira a mulher trans Letícia (Danny Barbosa luminosa), que trabalha no posto de gasolina, que é literalmente o “posto Ipiranga” do vilarejo. A funcionária não apenas diz os preços das mercadorias e outras informações como, sábia e observadora, fornece a ajuda possível, sem enfatizar as dificuldades do mundo. Já Fátima (uma impecável Silvia Buarque) se coloca como o porto seguro.
E há a estrada. Podemos dizer que a rodovia é o cenário personagem do filme. É quem observa todo o desenrolar da trama e sua aridez se coloca como uma metáfora da própria vida. Os caminhões propositalmente enquadrados pela câmera de Cariry de forma ameaçadora (que nos remete a O Encurralado de Steven Spielberg em sua estreia) são a fonte de sustento de Teresa ao mesmo tempo que lhe proporciona perigo.
Chama atenção a decupagem do filme. Nenhum plano ou enquadramento é gratuito ou meramente estilístico. Ela ajuda a contar a história estabelecendo claramente o estado de espírito da dupla de personagem, como em um momento de discussão em que ambos estão em um cômodo da casa, mas com a câmera posicionada atrás de uma parede, vemos cada um através de uma das duas portas, sugerindo estarem em lugares diferentes. A busca de água no poço por Antônio é vista por um ângulo que reforça uma dificuldade quase intransponível, mas não necessariamente em relação à ação (por mais que não seja das mais simples), mas ao contexto geral. Da mesma forma que utiliza a luz nos momentos em que Antônio com o menino no colo implora por esmola no meio da estrada.
Matheus Nachtergaele, gigante da atuação nacional, consegue, no olhar, transmitir o peso que carrega nos ombros, e Ana Luiza Rios, em plena simbiose com Matheus, o faz com a mesma competência. É impossível não ter empatia pelo drama dos personagens. Uma escolha de elenco incontestável.
Não há dúvidas que a força de “Mais Pesado é o Céu” está em seu elenco e na direção. O roteiro pode se arrastar em alguns momentos, desperdiçando alguns cortes que beneficiariam o andamento da trama. Ainda assim, é uma forma bastante eficaz de se contar uma história que não é nova, mas sempre rende bons resultados nas mãos (e atuações) certas.