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“Meu amigo, o Dragão” supera o filme original em praticamente tudo

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Em 1977, no mesmo ano que George Lucas conquistava o mundo com a primeira parte das aventuras de Luke Skywalker, Han Solo e a Princesa Leia contra o vilão Darth Vader e o Império Galático, a Disney lançou sua primeira versão para o cinema do livro infantil “Pete’s Dragon”, de Seton I. Miller e S.S. Field. O filme, que tinha o veterano Mickey Rooney como um dos nomes mais conhecidos no elenco, possuía diversas canções (uma delas, “It’s not easy”, foi traduzida para o português e interpretada por A Turma do Balão Mágico e Roberto Carlos, que fez muito sucesso entre o público infantil) e um trabalho interessante e bem eficaz para a época de efeitos especiais que misturou atores com animação. Mas não se tornou um filme memorável e pouca gente, nos dias de hoje, lembra que ele existiu.

Por isso, talvez, o estúdio responsável por clássicos como “Branca de Neve e os sete anões”, “Cinderella”, “Pinóquio”, entre outros, resolveu refilmar a história para que uma nova geração a conheça. Felizmente, o novo “Meu amigo, o Dragão” (“Pete’s Dragon”, 2016) consegue a proeza de ser, não só melhor que a obra original, como também mostra como refilmagens podem ser relevantes, desde que sejam feitas no tom certo e tenham a proposta de trazer algo novo, sem desmerecer o que já foi realizado antes.

Quando a trama começa, o menino Pete (Levi Alexandrer) está viajando com os pais quando acontece um grave acidente e apenas ele sobrevive. Sozinho no meio do nada, Pete acaba tendo contato com uma estranha e simpática criatura, que acaba cuidando do garoto. Seis anos depois, Pete (agora interpretado por Oakes Fegley), vive numa floresta de uma forma meio selvagem, mas adaptado ao local, acompanhado do dragão, que ele chama de Elliot por causa do personagem de um livro infantil, e que consegue se esconder de todos por ter a capacidade de ficar invisível.

Mas as coisas mudam quando a patrulheira florestal Grace (Bryce Dallas Howard), junto com o noivo Jack (Wes Bentley) e sua filha Natalie (Oona Laurence) acabam encontrando Pete e o levam para a cidade onde moram. O menino tenta voltar para a floresta para não deixar Elliot sozinho e a história chama a atenção do pai de Grace, o Sr. Meacham (Robert Redford), que tem a chance de estar diante de um ser que ele só conhecia através das histórias que contava para as crianças da região. Só que o ganancioso irmão de Jack, Gavin (Karl Urban), descobre que Elliot é real e decide capturá-lo para ganhar dinheiro com possíveis exibições do dragão.

O principal mérito de “Meu amigo, o Dragão” está no acerto do tom de fantasia que consegue encantar e não soa falso para o espectador, não importa a idade que tenha. O diretor David Lowery, que tinha feito anteriormente o drama “Amor fora da lei” e escreve o roteiro ao lado de Toby Halbrooks, deixa de lado os números musicais e investe na relação de companheirismo entre Pete e Elliot, que se torna envolvente à medida que o público passa a curtir a amizade entre os dois. Além disso, a criação de Elliot também é um grande acerto do filme, já que o dragão (cujo rosto é o resultado da mistura de vários animais, como cachorro, lobo e leão) provoca uma empatia imediata por seu comportamento dócil e, ao mesmo tempo imponente (embora seja um pouco desengonçado). Os efeitos especiais também ajudam a tornar Elliot mais “real”, dando a ele mais peso em seus movimentos, até mesmo quanto tem que voar, já que o bater de suas asas é mostrado de uma forma plausível, onde é possível ver seu esforço para permanecer no céu após alçar voo.

A história, como um típico produto Disney, enfatiza questões familiares. Mas, felizmente, não fica piegas porque possui bons personagens nessa nova versão. Até mesmo o vilão interpretado por Karl Urban não aparece de forma unidimensional e oferece alguma humanidade em suas ações. O filme também coloca mensagens ecológicas que não inseridas na trama de forma ostensiva ou aleatória e que podem fazer (especialmente) as crianças refletirem sobre o meio ambiente ou os animais. Além disso, a produção também oferece boas sequências de ação, sobretudo na parte final, que tornam a diversão ainda maior.

Boa parte do elenco de “Meu amigo, o Dragão” também merece elogios. Embora Bryce Dallas Howard não tenha muito o que fazer com sua personagem (e não tem uma boa química com Wes Bentley, que também não é muito aproveitado), tem alguns bons momentos quando precisa lidar com Pete como sua nova “mãe”. Robert Redford usa bem todo o seu carisma para tornar o Sr. Meacham um simpático aliado do dragão e seu pequeno amigo. Oona Laurence não se destaca tanto quanto no drama “Nocaute”, mas dá conta do recado como Natalie.

Quem realmente se sobressai é o menino Oakes Fegley, que mostra talento com sua interpretação corporal que torna seu protagonista quase como um mini-Tarzan após anos vivendo na floresta, mas também obtendo bons resultados nas cenas mais dramáticas. Karl Urban também se sai bem como Gavin, ajudado pelo roteiro que não o torna um antagonista genérico, como muitos vistos em vários filmes do gênero.

Depois do sucesso da releitura de “Mogli, o menino-lobo”, a Disney prova que está numa ótima fase para readaptar suas obras com “Meu amigo, o Dragão”. O filme deveria servir como uma lição para aqueles que pretendem fazer remakes no futuro, que podem aprender que, para justificar uma refilmagem, é preciso torná-la realmente relevante e não ser feita só por causa da força das produções originais. O filme merece ser descoberto por pais, filhos e outros parentes por ser, em sua essência, para toda a família, no melhor sentido da palavra.

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