"Minha Vida em Marte" perde ao subestimar seu próprio universo

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Há um problema bem claro em Minha Vida em Marte, continuação de Os Homens são de Marte… É para lá que vou. Diria que até um pouco oportunista do ponto de vista de mercado. Antes é preciso dizer que a “franquia” criada pela atriz Mônica Martelli sempre se estabeleceu pelo carisma da própria tanto em sua dramaturgia como cenicamente.
Há um sentido de universalidade em toda essa história da mulher que depois dos 30 entra em crise de ansiedade pelo fato de não ter casado e formado uma família numa espiral (cômica) do tempo passado ou perdido. Esse sempre foi o grande êxito do espetáculo que lotava os teatros e influenciou no sucesso do cinema.
Na comédia, Fernanda (Monica) está casada com Tom (Marcos Palmeira), com quem tem uma filha. O casal está em meio a crise dos anos seguidos de casamento, o que gera atritos constantes. Quem a ajuda a superar a crise é seu sócio Aníbal (Paulo), que vira uma espécie de “grilo falante” para contornar os anseios emocionais e sexuais da amiga.

A questão aqui chama-se Paulo Gustavo. Ele, que desde o filme anterior, sempre foi o alívio cômico certeiro – uma vez que ela em si, seja uma força cômica, mas potencializada pela leveza – aqui, nesse filme, consciente de seu apelo para bilheteria (vide o fenômeno Minha Mãe é Uma Peça) sua participação se estenda para além das necessidades dramatúrgicas da história. Até no próprio pôster do longa. Tanto que o roteiro, já esquemático, força uma barra danada para inserir um protagonismo para um personagem construído como alívio cômico.
Paulo Gustavo é ótimo e suas cenas são – invariavelmente – engraçadas, mas Minha Vida em Marte tem outra pegada e a extensão de sua participação banaliza o próprio personagem e o universo criado por Martelli. O filme vai te entreter, mas é um filme Frankenstein: entre uma risada e uma assimilação, alguma coisa parece estar fora do lugar.

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