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Movie Tunes: Fantasia

Os criadores dos primeiros desenhos animados, desde William Hanna e Joseph Barbera à Walt Disney, todos empregaram obras clássicas em seus desenhos como trilha sonora. Os desenhos de Tom e Jerry em especial merecem um destaque por usarem de obras como Carmen e o Barbeiro de Sevilha em suas trilhas, chegando a serem criados episódios especiais com base nestas e outras óperas.

fantasia

Porém, quem mais inovou neste ramo artístico foi realmente Walt Disney. Em 1940 ele criou uma obra de arte chamada Fantasia em que a música clássica e a animação se misturavam de forma harmoniosa, criando pequenos segmentos musicais em que uma ou muitas histórias eram contadas ao redor de uma música clássica, as vezes famosa, as vezes nem tanto, mas todas perfeitamente sensacionais.

Foram feitos dois Fantasias, o primeiro, em 1940 consistia de oito segmentos. Como Movie Tunes também é cultura, eu vou falar um pouco da animação, da música e da mensagem passada pelo segmento:

O primeiro segmento apresentado é baseado em uma peça chamada Tocata e Fuga em Ré Menor, de Johann Sebastian Bach. Todo fã de cinema já ouviu essas notas iniciais.

A beleza desta peça fica por conta de seu teor abstrato. A música em si, uma das mais famosas de Bach, foi criada em 1707 quando foi convidado a ser organista da Igreja de São Basílio em Mühlhausen. Nesta primeira impressão, vemos que o jogo de luzes com o maestro, misturado com a orquestra de sombras e posteriormente o teor abstrato das imagens, fazem deste talvez o mais difícil segmento de interpretar ou entender. Eu recomendo assistir enquanto se delicia a música de Bach, mas apenas ouvir basta neste caso.

A seguir, temos Suíte Quebra-Nozes, de Tchaikovsky em que as seis danças são interpretadas por seres como fadas, cogumelos chineses, flores, peixes dourados e cravos.

Aqui nada mais temos que uma homenagem do animador Art Babbit às estações do ano usando o balé de Tchaikovsky. Nada mais que puro brilhantismo e poesia na tela.

Em seguida viria o Aprendiz de Feiticeiro, talvez a seqüência mais famosa de Fantasia por conter Mickey Mouse, mas essa eu deixo para o final.

Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky é o que se pode chamar de obra épica. Durante 21 minutos os animadores da Disney explicaram a evolução do mundo desde o começo da Terra a Extinção dos Dinossauros. É de se babar, porém extremamente cansativo apesar da maravilhosa música de Stravinsky.

No segundo ato do primeiro filme, temos de cara a Sinfonia Pastoral, de Beethoven, que tem como cenário o Monte Olimpo e o elenco de personagens é composto de figuras fantasiosas como cavalos alados que cortam o céu, sátiros que saltam pelos campos, cupidos, centauros e suas namoradas; Este segmento do filme causou muita polêmica ao mostrar centauras e cupidos nus e mostrou uma centaura negra servindo outras brancas. Algumas cenas chegaram a ser cortadas deste segmento.

A seguir, vemos a Dança das Horas, de Amilcare Ponchielli, que apresenta uma sátira ao balé clássico e representa as horas do dia por um grupo de animais, como avestruzes, hipopótamos, elefantes e jacarés.

É hilário ver os hipopótamos como bailarinas. Genial esse segmento.

Ao final do primeiro filme, vemos, na minha opinião, uma das sequências mais fantásticas deste. Em dois segmentos que praticamente se casam, ouvimos Uma Noite no Monte Calvo, de Modest Mussorgsky seguida de Ave Maria, de Franz Schubert.

A primeira parte, mostra o demônio Chernabog que vive no alto da montanha, e que na noite de Halloween vem atormentar as almas do vilarejo. Esta se sequência com certeza é a mais forte de ambos os filmes, onde podemos ver o demônio ateando almas ao fogo infernal, bem como arrancando-as dos corpos de seus hospedeiros. A segunda parte, por sua simplicidade, bate de frente com o frenesi de Chernaboug. Apenas assistimos uma procissão ao amanhecer ao som de Ave Maria de Schubert, simples, porém poderosa.

O segundo filme, que eu tive o prazer de assistir nos cinemas no ano 2000 foi tão bom quanto o primeiro, porém com algo a mais, talvez pela melhoria nas técnicas de animação, certas inspirações acabaram por vir à tona de forma totalmente inesperada.

Como no primeiro filme, a primeira música nos leva a um segmento abstrato tendo a 5ª Sinfonia de Beethoven como trilha.

Vemos na tela uma sequência de imagens que nos levam a figuras geométricas que nos lembram borboletas pairando sobre a água. O ritmo frenético da música leva a destruição e a escuridão que logo após são substituidos pela luz e a criação, mostrando as figuras se dirigindo aos céus da criação.

Pinheiros de Roma é um segmento ao som da música clássica de Ottorino Respighi, este segmento deveria falar sobre pinheiros crescendo em ruínas de Roma, mas a Disney decidiu colocar no lugar das ruínas de Roma, pedras cobertas de musgo e algas, no lugar de Roma, o mar, e o lugar da pinheiros, baleias que voam e seu filhote que acaba separado dos pais.

Este segmento foi o primeiro a ser feito inteiramente em 3D e com computação gráfica. A beleza deste segmento é inigualável.

Rhapsody in Blue é um segmento ao som da clássica música de George Gershwin, onde se mostram adultos com um sonho que querem realizar, tudo se passando na cidade de Nova Iorque nos anos 30 no período da grande depressão. É outro desenho que prima pela fonte de onde bebeu.

O estilo dos traços são uma homenagem ao cartunista Al Hirschfeld que trabalhou durante muitos anos no NY Times e tinha um traço inigualável. A música de 1924 também evoca este ar de Nova Iorque, especialmente por misturar música clássica com Jazz, uma mistura que nunca se pensou ser possível, mas que tem tudo o que se pode chamar do estilo de Nova Iorque nela.

A seguir temos o Piano Concerto No. 2 que é um segmento que ao som da clássica música de Shostakovich, conta a clássica história de Hans Christian Anderson “O Soldadinho de Chumbo”. Sinceramente, é um dos trechos mais puláveis no filme. Não gostei tanto da história quanto da música, ou seja, próxima!

O segmento mais engraçado de todos é o próximo: Carnaval dos Animais ao som da música de Camille Saint-Saëns, mostra como é o que acontece ao se misturar flamingos e um io-io. É com certeza o segmento mais engraçado dos dois filmes.

A seguir, voltamos ao original com a reapresentação de O Aprendiz de Feiticeiro, de Paul Dukas. Eu remeti a este momento no post em razão de que como foi reprisado no segundo filme, eu achei melhor falar dele apenas uma vez. Este talvez seja o segmento mais famoso de todos os filmes, onde vemos camundongo Mickey no papel do feiticeiro afobado que quer aprender seu ofício antes da hora. Para isso, ele rouba o chapéu mágico de seu mestre e dá vida à um bando de vassouras para encher o caldeirão de água e, como resultado de sua teimosia, cria algo que nem ele mesmo sabe controlar.

É sem dúvida alguma muito divertido e a música é também uma das mais famosas, especialmente a marcha que começa quando as vassouras ganham vida.

Antes do grande finale, mais um segmento engraçadinho, desta vez com o adorado Pato Donald em que ele age como ajudante de Noé ao som de Pompa e Circunstância de Edward Elgar.

A música de Elgar foi criada para uma série de eventos, mas ficou mais famosa (nos EUA) ao ser tocada em formaturas de escola e todos os que já assistiram um filme que ocorria uma formatura já ouviram esta música.

Por fim, talvez o segmento mais cheio de sentimento de todos os filmes. Em uma história de nascimento, morte e renascimento, temos o eterno embate entre o espírito da floresta e o fogo ancestral, aqui representado por um pássaro de fogo. Com vocês: Firebird de Igor Stravinsky.

Concebido como um balé, Firebird conta a história do principe Ivan que vai ao reino de Kashchei, o imortal e lá encontra o Pássaro de Fogo, uma criatura que é tanto uma benção quanto uma maldição ao seu possuidor.

Bem, é isso meus caros. Talvez este seja o Movie Tunes mais paradão do ano, mas eu tinha de fazê-lo pela beleza tanto da obra musical quanto das obras visuais usadas em ambos os filmes. Espero que esse pouco de informação que eu os trouxe tenha servido de algo e os inspire a abrir seus horizontes para novos (velhos) tipos de músicas.

J.R. Dib

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