"Mulheres ao Ataque" é um descaso com o bom gosto do espectador

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Segundo Nietzsche, na vingança e no amor, a mulher é mais bárbara do que o homem. A ira provocada em uma mulher traída pelo homem que ela ama costuma render muito pano para manga no cinema, tanto na tragédia como na comédia. No último caso, nem sempre o resultado vem com a graça que se espera. É o caso de “Mulheres Ao Ataque” (“The Other Woman”, E.U.A/2014).
A película é dirigida por Nick Cassavettes, responsável por “Alpha Dog” e “Loucos de Amor”. Na trama, Carly Whitten (Cameron Diaz), uma bem sucedida profissional liberal é apaixonada pelo namorado Mark King (Nikolaj Coster-Waldau). Tudo são flores até descobrir que ele é casado com Kate (Leslie Mann) que, após o choque inicial, se torna sua aliada. Mas as confusões estão longe de acabar, já que elas descobrem que Mark tem uma terceira mulher, a jovem e bela Amber (Kate Upton). As três então se unem para dar uma bela lição no mulherengo.
Embora nem um pouquinho original, o mote poderia render um filme divertido e engraçado. Mulheres histéricas costumam dar bons resultados nas mãos de um Pedro Almodóvar, por exemplo. Infelizmente, Cassavettes não bebeu na fonte do cineasta espanhol, e contou com uma roteirista pouco inspirada – a inexperiente Melissa Stack (antes deste ela só havia escrito um curta). O filme tenta seguir a linha de comédias que versam sobre uma jornada envolvendo um grupo de mulheres unidas, como “Missão Madrinha de Casamento”. Essa vertente é uma espécie de versão feminina da onda de comédias masculinas populares como “Se Beber Não Case”, “Ligeiramente Grávidos”, “Superbad: É Hoje”, “A Ressaca”, entre outras.
 

O filme estreou nos E.U.A há duas semanas desbancando o reinado de três semanas do Capitão América no primeiro lugar nas bilheterias. O saldo foi mais do que satisfatório: US$24 milhões de sexta a domingo. Mais do que a metade do custo de produção, US$40 milhões. Porém, bilheterias altas quase nunca são indicadores confiáveis de qualidade, principalmente nos E.U.A (e aqui).
“Mulheres Ao Ataque” é uma comédia que não tem a menor pretensão de ser refinada ou sutil. O objetivo é arrancar o riso solto e farto, se valendo das piadas mais óbvias, como garantia de retorno em forma de gargalhadas bem altas na sala de exibição. Cameron Diaz em “Quem Vai Ficar Com Mary” provou que tem talento e timing certo para comédia. Por isso foi convocada para várias após o sucesso dos irmãos Farrelly. Aqui, no entanto, seu desempenho é prejudicado pela direção equivocada e pelo roteiro pouco inspirado. “Uma Professora Sem Classe”, por exemplo, sofria do mesmo mal, mas a atriz encontrou brecha para se salvar com uma atuação digna. Aqui ela ficou literalmente sem saída.

Leslie Mann também é uma ótima comediante, como pode ser visto em “O Virgem de 40 Anos” e “Ligeiramente Grávidos”. Todavia, no papel de mulher traída e revoltada ela está, no mínimo, uns dois tons acima do ideal. Tanto que o cão dinamarquês da personagem rouba sua cena o tempo todo. Quanto ao terceiro vértice do triangulo, Kate Upton, não tem muito o que fazer além de aparecer deslumbrante o tempo todo. Do tipo que qualquer mulher de mais de quarenta, como as outras protagonistas, tem vontade de esganar. É uma atriz praticamente iniciante, com apenas mais dois filmes no currículo, e dá a impressão de que seguirá essa linha de personagem enquanto sua juventude permitir. Já Nikolaj Coster-Waldau (o Jaime Linnister da série de TV “Game of Thrones”), surge caricato em todos os enquadramentos. Por ser a roteirista uma mulher, retratar o homem safado de forma ridicularizada era irresistível.
“Mulheres ao Ataque” se vende como uma comédia descompromissada, mas seu verdadeiro descompromisso é com o bom gosto e com a massa encefálica do espectador. A aposta é na falta de exigência de quem for assistir e gerar o boca a boca. E Cameron Diaz está precisando de uma continuação de “Quem Vai Ficar Com Mary” para levantar sua carreira de comediante – ultimamente prejudicada por más escolhas. Mas por enquanto, apenas “Uma Professora Sem Classe 2” está a caminho.
 

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