Não subestime as intenções de “O Voo”

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Há quem defenda que estão nas animações o melhor cinema mainstream feito hoje nos Estados Unidos. Um verdade nada absoluta mas que ajuda a compreender o sucesso (artístico e comercial) do novo filme do diretor Robert Zemeckis, que se notabilizou por clássicos dos anos 80 e 90 com pérolas como De Volta Para o FuturoUma Cilada Para Roger Rabbit  e Forrest Gump – O Contador de Histórias, mas que vinha de anos se dedicando exclusivamente á animações de captura de movimentos. O Voo pode não partir dessa prerrogativa, porém expõe uma característica muito específica de Zemeckis pós distanciamento do live-action: a controvérsia dentro do politicamente correto.

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O filme conta a história de Whip Whitaker, um piloto de avião viciado em drogas e álcool que, ao voar alterado em um avião defeituoso, acaba salvando a vida da maior parte dos passageiros pilotando de forma pouco usual: de 102 pessoas a bordo, 96 sobrevivem. Após à queda, vemos uma investigação da organização de segurança aérea americana. Entre outras coisas, é comprovado elevado teor de álcool no sangue do comandante. Dado suficiente para condená-lo à prisão perpétua pelo homicídio daqueles que não conseguiu salvar. Portanto, assim que sai do hospital ele passa a receber a assessoria de um advogado que não mede esforços para ganhar uma causa.

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O roteiro de John Gatins (dos desanimadores Coach Carter e Gigantes de Açofaz um bom percusso dramático indo do cinismo de Whip, passando pelo conflito moral até o seu fim, um tanto polêmico. Daí consegue-se uma abordagem sem grandes juízos de valor, tanto para os personagens quanto para a percepção do espectador. Na verdade o filme é bem em cima dessa vertente, acrescida de paralelos de bons coadjuvantes como o hilário traficante vivido por John Goodman. Denzel dá show de interpretação nessa ambiguidade ordinária, conseguindo mais uma justa indicação ao Oscar.

Muitos criticam o possível conservadorismo do final. Existem razões para achar que a conclusão do filme estrague mesmo sua potencialidade. Daí é que se conclui que o diretor enxerga o mundo pela lente fabular de sua últimas animações. Entretanto, e coerente com o que o filme apresentou até ali, acredito que, em tempos cínicos como o que vivemos, a redenção discursiva do filme seja um ato um tanto reacionário. Portanto, não subestime as intenções de O Voo.

[xrr rating=4/5]

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