O que torna Entre Abelhas um filme ainda mais interessante do que a média no país, é sua própria natureza de não enxergar os filmes do gênero da qual, de (bem) certa forma, faz parte. E salienta papel de Fábio Porchat nesse sentido.
Deixa eu explicar: no novo filme estrelado por Porchat e dirigido pelo seu parceiro de Porta dos Fundos, Ian SBF, o ator interpreta Bruno, um rapaz que acaba de se separar da esposa (Giovanna Lancellott). Num dia ele passa a sofrer de um problema inusitado: as pessoas, aos poucos, começam a desaparecer para ele. Ele ainda é capaz de ver a mãe (Irene Ravache), o amigo sexista Davi (Marcos Veras), o psiquiatra (Marcelo Valle), a ex-mulher. Mas é incapaz de interagir com alguns estranhos, incluindo alguns amigos do trabalho.
O mote é desenvolvido dentro do estranhamento do protagonista diante dos acontecimentos cada vez mais esquisitos que essa “deficiência” suscita. Ian demonstra que a destreza com que toca seus vídeos para o YouTube, se aplica dinamicamente no cinema.
O filme é fluido e bem arejado esteticamente (a arquitetura do Centro do Rio de Janeiro delimita fortemente a angústia de Bruno). E por que cargas Irene Ravache faz tão pouco cinema? Sua interpretação é comovente.
O roteiro é conciso – até mesmo na sua conclusão que pode não agradar muitos – mas equilibra bem a dose de comédia dentro lucidez dramática da trama. Fabio dá conta do desafio (repare nas cenas finais de seu personagem) e, tanto como criador (já que a história é sua e estava sendo burilada há nove anos) quanto como ator, nos deixa a impressão que ainda tem muito a oferecer, para além de filmes lamentáveis que vem fazendo, como O Concurso. Entre Abelhas leva a comédia nacional ao patamar do raciocínio adulto de se assistir cinema, e para isso deixa para o expectador as questões e a resolução final dessa história tão cheia de simbolismos.
Por mais Entre Abelhas no nosso cinema, onde se ri refletindo, sem ser subestimado.
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