“Nerve – Um Jogo Sem Regras” e as mazelas da era social-tecnológica

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Imagine um jogo que combina Pokémon GO, Facebook e Reality Show na mesma plataforma. Esse é o conceito de Nerve, o aplicativo fictício em torno do qual gira “Nerve – Um Jogo Sem Regras” (Nerve, EUA/2016). O filme é inspirado no romance homônimo de Jeanne Ryan, aproveitando o boom da literatura jovem adulta que vem tendo sucesso nas adaptações para o cinema (salvo algumas exceções). O subtítulo adicionado aqui, como quase sempre ocorre em casos semelhantes, é não só desnecessário como incoerente com a trama. O jogo em questão tem regars sim, e isso fica claro logo no início do filme.

Se “Nerve” não chega a ser brilhante, tem o mérito de lançar uma proposta interessante na seara das adaptações da literatura juvenil. Tem um bom ritmo, apesar de um pouco videoclipesco em muitos momentos, e um roteiro redondinho que prende o espectador até o desfecho (menos ousado do que se esperava, diga-se de passagem).

Na trama, a colegial Venus “Vee” Delmonico (Emma Roberts) é uma menina que deseja deixar para trás sua Staten Island para ingressar em uma faculdade de artes. Enquanto se encontra do dilema de dar ou não um rumo audacioso à sua vida, ficando longe dos amigos e sua mãe (Juliette Lewis), ela toma conhecimento do jogo do título, no qual sua amiga, Sydney (Emily Meade), torna-se extremamente popular. O Nerve consiste em uma realidade on-line onde as pessoas podem se inscrever como “jogadores” ou pagar para ver como “observadores”.

Jogadores aceitam os desafios dos observadores, recebendo dinheiro recompensas que aumentam com o perigo de o desafio quando concluída com êxito. Quando Vee aceita participar, ela irá contar com o suporte do amigo Tommy (Miles Heizer) e conhecerá (e, claro, se interessará) o jogador Ian (Dave Franco). Juntos, eles irão completar os desafios até chegar a descobrir o que está por trás da febre midiática.

O roteiro adaptado, escrito por Jessica Sharzer (autora de alguns episódios da série American Horror Story) se constrói em cima de arquétipos bastante conhecidos, mas apresentados com certo frescor. Está ali a clássica estrutura narrativa da jornada do herói, um quê de Matrix (há até uma cena do filme de easter egg) e contornos de Jogos Vorazes. O desiderato é mesmo estabelecer uma reprimenda à cultura techie na qual estamos afogados e à cultura do espetáculo e exibicionismo implementada pelos reality shows e reforçada pelas redes sociais. A obstinação com que os jogadores enfrentam seus desafios para aumentar o número de seguidores é muito semelhante ao nosso desejo por curtidas diárias.

O filme não esconde nem tenta disfarçar que se vale de reciclagem, mas consegue a façanha de não parecer cópia barata, ou um simples seguidor de tendência. A direção da dupla Henry Hoost e Ariel Schulman (de “Catfish” e “Atividade Paranormal 3”) aposta no ritmo ágil. Patina entre o quase experimental e o padrão convencional que evita sustos ou riscos. Um pouquinho mais de ousadia enriqueceria muito a trama contada. Já a edição é um real trunfo do filme.

É difícil dizer o real impacto que “Nerve” terá. Pode se empalidecer em algumas semanas para nunca mais ser lembrado, ou se tornar um objeto de culto no futuro. Talvez fique para a posteridade como um registro da era das redes sociais e jogos de realidade. E só o futuro dará o parâmetro para seremos vistos como frívolos ou como româticos.

Filme: Nerve – Um Jogo Sem Regras (Nerve)
Direção: Ariel Schulman e Henry Joost
Elenco: Emma Roberts, Dave Franco, Emily Meade
Gênero: Suspense
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Paris Filmes
Duração: 1h 37 min
Classificação: 12 anos

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