Se na primeira parte, o diretor Lars Von Trier fazia uma investigação puramente dionisíaca sobre a relação do desejo como justificativa de um indivíduo, “Ninfomaníaca – Volume 2″ expande a questão para o viés patológico desse recorte. Mas como questões nunca são simples questões para Lars, o resultado é uma incômoda reflexão sobre essa patologia e o os confrontos sociais a que isso está atrelado.
A história segue o andamento do primeiro filme: Joe (Charlotte Gainsbourg) continua narrando sua experiência de vida (leia-se, sexual) para o desconhecido que a acolhe machucada na rua. Saligman (Stellan Skarsgård) também raciocina o que ouve, elaborando metáforas, o que rende a única piada do filme.
Essa trajetória vai se revelando mais sinuosa e delicada, e conta com interessantes participações de atores como Willen Dafoe e Jamie Bell. É importante notar que o roteiro julga e condena o julgamento de sua complexa protagonista (exacerbada no verdadeiro estudo cênico de Charlotte Gainsbourg), deixando a esquizofrenia para decidir a que medida assimilar a história. Volto a salientar a lucidez do diretor ao contornar a linha tênue entre o vil fetichismo, afinal é uma trama recheada de generosas cenas de sexo.
Dois momentos são latentes para a maestria com que o diretor conduz sua alegoria polêmica: a abnegação de Joe nos viscerais prazeres da violência e a bem dirigida cena do pedófilo. São exemplos de que o discurso de pessimismo e resignação do próprio autor ainda estão presentes em seu filme, mais acrescido de críticas contundentes ao moralismo reinante na sociedade.
Racionalizar esse prisma é uma forma de discuti-la ao modo Von Trier de fazer cinema: joga as questões extremas no nosso colo e que nos viremos em nossas próprias percepções.
“Ninfomaníaca – Volume 2″ tem a impiedade de seu criador. E nunca as cenas de sexo foram tão filosóficas…
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