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“Nosso Sonho” equilibra os elementos e proporciona uma belíssima cinebiografia musical

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“Nosso Sonho” apresenta a trajetória da famosa dupla de funkeiros fluminenses Claudinho e Buchecha (interpretados, respectivamente, por Lucas Penteado e Juan Paiva), mas narrada a partir do ponto de vista do sobrevivente (Claudinho morreu vitima de um acidente de carro em 2002). Da amizade entre os dois, ainda na infância, na periferia de Niterói, no Rio de Janeiro até alcançar o status de um dos maiores fenômenos do funk melody nacional de todos os tempos, presente na mídia dos anos 1990 e referência até hoje. No filme, também conhecemos um pouco das inspirações por trás dos maiores hits .

O título da produção, que presta uma clara homenagem à canção homônima da dupla, uma mais conhecidas do grupo, lançada em 1996, já deixa claro qual é o fio condutor da trama: o sonho dos meninos pobres que se torna realidade, mas, como em “Homem-Aranha”, grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Um dos grandes acertos do filme é justamente não deixar, em nenhum momento de colocar o ônus do sucesso no debate central, como isso os afetou, sem lhes tirar a resiliência, e até mesmo o bom humor.

O esquema clássico de cinebiografia aborda a ascensão, a queda e a redenção. Ou a luta árdua e incansável para atingir o sucesso e termina com a realização do sonho como o final feliz. A diferença é que esse longa sobre a dupla de MCs é muito mais uma história de amizade, com a carreira musical servindo muito mais como o forte elo que liga os amigos.

O roteiro de Eduardo Albergaria (que também assina a direção), Daniel Dias e Maurício Lissovsky guarda mais semelhança com “Conta Comigo” do que com “Simonal”, ou “Cazuza – O tempo Não Para”. É possível estabelecer também uma certa familiaridade com “2 Filhos de Francisco”, com uma figura paterna (Nando Cunha em uma interpretação grandiosa como Souza, pai de Buchecha) ocupando uma posição central, embora não da mesma forma que o pai de Zezé Di Camargo e Luciano. Aqui o pai é um catalisador do conflito do personagem, responsável pela veia mais dramática do filme. E a forma como o filme administra a leveza consonante com a música da dupla e o drama é um dos maiores trunfos do trio de roteiristas.

Os dois protagonistas não são tão parecidos com o Claudinho e Buchecha da vida real, mas a ótima interpretação, no tom exato, e, sobretudo, a química entre os dois, eclipsa esse “detalhe”. A empatia com o espectador é tanta que mesmo já ciente da história toda é impossível não torcer por eles, e até um pouco fora da lógica, para que o destino de Claudinho seja magicamente alterado.

Esse é o efeito surtido pela direção de atores de Albergaria (de “Happy Hour – Verdade e Consequência”), que comanda as câmeras com firmeza – amparado por uma excelente fotografia – e evita cair em armadilhas como tentar emular “Cidade de Deus”, na etapa da trama em que outro diretor interpretaria como um favela movie. “Nosso Sonho” tem personalidade, linguagem pop quando exigido e artisticamente arrojada quando cabível.

A reconstituição de época acerta desde os figurinos e a direção de arte até as gírias. Há um ou outro pequeno deslize em pequenos detalhes, como logomarca ou escalação de um time de futebol, mas isso pode ser compreendido.

O fato de a música servir muito mais para conectar os personagens (a dupla e outros) do que o grande destaque até pode justificar a retirada de músicas do repertório da dupla. Mas há duas que seria bastante adequado se aparecessem ao menos uma vez. O sucesso de Claudinho e Buchecha parece muitas vezes não ganhar a devida a dimensão do que foi, sobretudo para a geração Z, que deve ter contato maior com a história dos MCs assistindo a esse filme. Chama atenção a edição um pouco truncada em alguns momentos. É uma escolha estética para contar a trama, contudo pode dificultar a clareza para alguns.

No entanto, o observado acima não macula o produto final, uma belíssima cinebiografia que pode sem dúvidas configurar entre os melhores filmes nacionais do ano. O gerenciamento narrativo aqui é primoroso, o elenco funciona perfeitamente e ainda tem o apelo popular das canções arraigadas na cultura nacional. O sucesso é garantido.

Nosso Sonho

Nosso Sonho
8 10 0 1
Nota: 8/10 - Excelente
Nota: 8/10 - Excelente
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