O choque entre o épico e o realismo no ótimo “O Lugar onde Tudo Termina”

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O melhor cinema americano é o cinema que reflete a face mais ordinária do “american way of life”. É como se a América só encontrasse legitimidade quando se expõe fora de seus pedestais. “O Lugar Onde Tudo Termina” é mais um recorte dessa percepção. O diretor Derek Cianfrance surgiu sob um outro tipo de iconoclastia: a do amor romântico, no perturbador “Namorados para sempre”.
Agora, mira sua lente desconcertante (e de estética semi documental) sobre a questão da moralidade e do imponderável da vida. Até que ponto somos consequências de atos nossos e alheios?

O roteiro, criado pelo próprio diretor, em parceria com Ben Coccio e Darius Marder, se divide em três atos. No primeiro somos apresentados a Luke (Ryan Gosling, como sempre, incrível), um tipo desgostoso da vida que vive de maneira nômade como uma atração de circo, valendo-se de suas habilidades com uma moto. Depois de descobrir que é pai, ele decide estabelecer-se em uma cidadezinha do Estado de New York e reconquistar a mãe de seu filho (Eva Mendes, surpreendente).
o_lugar_onde_tudo_terminaPara isso, investe no ofício de assaltante de bancos. É aí que tem início o segundo ato da trama, em que o policial Avery (Bradley Cooper, cada vez mais surpreendente), ferido em ação justamente para deter um dos assaltos perpetrados por Luke, é o foco. Ele precisa resistir ao assédio de companheiros corruptos enquanto digere um trauma de sequelas ainda desconhecidas. O terceiro ato avança 15 anos e flagra os filhos dos personagens de Cooper e Gosling envolvidos em circunstâncias tão desalentadoras quanto seus pais.
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O roteiro é ambicioso na forma e no conceito. Vai destrinchando as três histórias sem perder de vista a humanidade de suas justificativas. E não faz concessão à identificações que vamos fazendo com seus ricos personagens. Claro que na escala de acontecimentos de cada trama, há desníveis, mas o mérito de Cianfrance é saber tornar relevante seus personagens para além da construção narrativa moldada em torno deles.
O realismo aqui sufoca o otimismo e é bem mais substancial que o pessimismo. Trata-se do casamento perfeito entre as necessidades da ficção e as contradições da vida real. Talvez seu esquematismo até equilibre o impacto desse realismo perseguido pelo diretor. E ainda se coloca como pérola aos porcos do que vem sendo oferecido pelo cinema americano atual. imperdível.

[xrr rating=4.5/5]

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