Já virou lugar comum apontar a complexidade violenta de se adaptar o universo literário da escritora da Clarice Lispector para o audiovisual. Assim também como é lugar, o resultado sublinhar essa alcunha. Baseado no livro “Uma aprendizagem ou o Livro do prazeres”, que a autora publicou em 1969, o filme O Livro dos Prazeres tenta fazer o que Lispector habilmente se notabilizou em sua obra: dar forma a um estado de espírito emocional.
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Simone Spoladore dá vida a Lóri, uma professora primária que vive na Glória, Rio de Janeiro, seguindo uma vida solitária e bem ordinária, que é quebrada com a herança de um apartamento de frente para o mar de Copacabana que recebe, e sua relação com o também professor Ulisses (o argentino Javier Drolas, do neo clássico Medianeras). A narrativa se desenvolve através da jornada interna dela sobre as percepções espaciais e sentimentais que está vivendo.
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Spoladore parece engolir sua personagem, num trabalho de expressão corporal notável e até mais refinado que o próprio filme, esse muito prejudicado pela apatia do papel/interpretação de Ulisses (Drolas). Dirigido e roteirizado por Marcela Lordy, em parceria com Josefina Trotta, o filme parece não alcançar a pretensão de sair da forma. Como se não conseguisse imprimir o tal estado de espírito que uma obra de Clarice, seja de qual veículo for, precisa para ser melhor absorvida. Ainda que a direção saiba se valer da sensibilidade para que o resultado não seja vil.
É uma pena que nós, roteiristas desconhecidos, não tenhamos oportunidade. Adaptei o romance da Clarice há muito tempo. Complexo é não compreender Clarice. Sou Gabriella Slovick.