Depois de três filmes, Sacha Baron Cohen tinha a consciência de que precisa se recriar para poder continuar a debochar de sua América e de si, com o mesmo resultado. Em seu filme anterior Bruno, já demonstrava cansaço da fórmula, num filme destituído de consistência e de sua principal razão de ser: o humor. Pois ele se volta ao seu maior sucesso (e eficiência!), Borat, e lança um filme ficcional, para tentar obter o mesmo resultado de seu, outrora, documental: a ironia incômoda da assimilação. O Ditador existe para isso, mas seu resultado o afirma mais como um bom humorista do que qualquer outra ambição maior.
Aladeen, interpretado pelo comediante, é um ditador africano avesso à democracia, à diversidade e a Israel. Com essas características, sobram citações e referência a figuras conhecidas da história como Saddam Hussein, Muamar Kadafi e Mahmoud Ahmadinejad. Sua galhofa mira (e muito) a política externa dos Estados Unidos. Aladeen, regente da República de Wadiya, ao visitar a ONU em Nova York para explicar seus testes nucleares acaba sequestrado e descaracterizado. Com isso, assiste a seu tio traíra Tamir (Ben Kingsley) assumir o poder. Com a ajuda de uma feminista vegetariana do Brooklyn (Anna Faris), por quem se apaixona, Aladeen tenta reconquistar seu trono.
A comédia é hilária em vários momentos, principalmente nas piadas (costumeiras) que debocham da relação política dos EUA com o Oriente. Mas ao apostar no ficcional, Sacha esbarra em maneirismos fáceis da comédia romântica. Quando seu ditador se relaciona com a sempre ótima (e interessantemente estranha) Anna Faris, o filme perde muito de sua astúcia. A sátira política acaba em segundo plano e as piadas ficam previsíveis ou puramente gráficas (a cena do parto na loja de Farris fica entre o bizarro e o inacreditável.
O Ditador, como recurso do ator de manter o que sabe fazer melhor, que é a crítica pela alegoria do absurdo, é um filme interessante e (por vezes) engraçado. Perto do fim, Aladeen discursa para diversos líderes mundiais que esperam que a democracia seja instalada no país do ditador. Ao invés disso, ele tenta convencer as Nações Unidas enumerando as vantagens de uma ditadura. Entre elas, o controle da imprensa, a prisão sem julgamento, torturas, concentração de renda nas mãos de poucas famílias, mentiras sobre o porquê das guerras, dentre outras que vão relativizando a autocrítica de diversas “ideologias” e nações. Nesse momento, ficamos cientes de que o Sacha continua um grande idiota, mas assim como Michael Moore, se faz de bobo de uma corte que conhece tão bem que sabe, como poucos, constrangê-la.
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