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“O Escândalo” e sua justificativa de ser panfleto e cinema

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Dentre as transformações que os movimentos Time’s Up e #MeToo trouxeram para Hollywood, a maior está na pauta recorrente de filmes feministas. E feminista aqui, quer dizer inclinado à investigações sobre o ambiente tóxico que a sociedade sempre se revelou para elas.

O Escândalo, como o próprio nome diz, destrincha a série de acusações de assédio sexual que acontecia com as jornalistas da Fox News. A história, baseada em fatos reais e conhecidos, é centrada pelas perspectivas de Megyn Kelly (Charlize Theron, precisa), Gretchen Carlson (Nicole Kidman) e Kayla Pospisil (Margot Robbie, ótima).

Todas de alguma forma, vítimas desse assédio. Kelly num confronto público e danoso com Donald Trump, ao questiona-lo sobre sua conduta pré presidência. Gretchen, considerada uma veterana, luta por condições de trabalho mais justas e dignas, sobretudo investidas sexuais de companheiros de trabalho. E Kayla, uma personagem que representa uma série de funcionárias que sofreram mais diretamente ao entrar na emissora.

O roteiro é de Charles Randolph, que vem a ser a mente criativa e desconstruída por trás de A Grande Aposta, naquela linha de quebra da quarta parede, gracejos visuais e viés satírico de contar uma história. Apesar da crítica em geral parecer não ter gostado do estilo para esse tipo de filme, o roteiro, junto com a direção de Jay Roach, funciona como contraponto a dramaticidade que a trama já traz em si.

Essa desconstrução narrativa fica muito interessante diante da urgência da questão, e a dose é medida espertamente, equilibrando a seriedade do caso – a cena em que Kayla é assediada dentro da sala da presidência por um milimetricamente asqueroso Roger Ailes (não entendo como John Lithgow ficou de fora das premiações), é de uma força tamanha que no cinema em que assisti, mulheres verbalizavam seu ódio diante do que viam na tela – com a visão do diretor e do roteirista de esmiuçar a cadeia corporativista que levava ao assédio generalizado.

Penso que se o filme fosse escrito e/ou dirigido por mulheres, caberia muito mais nuances e menos cinismo, mas dentro do que o filme apresenta e resulta, O Escândalo reforça o discurso presente da não normalização do machismo. Essa linguagem inclusive justifica o tom panfletário da história. Essa nova “tendência” estética criada por Randolph vai sempre deixar a dúvida se funciona por ser escamotear uma superficialidade ou por adensar discursos narrativos. Bombshell (nome original) parece se enquadrar mais no segundo caso. Mesmo abrindo mão do lugar de fala em sua própria criação.

Cotação: Excelente (4 de 5 estrelas)

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