É oficial, Baz Luhrmann está preso no tempo, no distante ano de 1996 quando lançou sua versão da história de Romeu e Julieta, com o então jovem Leonardo DiCaprio como ator principal, pronto para o fazer explodir para o estrelato com sua visão modernizada do clássico de William Shakespeare.
O Grande Gatsby é um crime contra a literatura e o bom cinema. Baz Luhrmann, mais uma vez, usando de suas “idéias originais” de pegar clássicos e os modernizar de alguma forma, esquarteja “O Grande Gatsby” de F. Scott Fitzgerald, tornando-o em um dos filmes mais insípidos dos últimos anos. Não há alma nas mais de duas horas de tomadas extravagantes, com excessos de closes e cenas rougianas.
A verdade é que o diretor, que há muito foi elogiado como um dos mestres da estética cinematográfica, se perdeu em meio a adaptação de um dos mais celebrados livros da história dos EUA. Querendo dar novos ares a uma história que retrata o pequeno lapso de tempo entre a primeira guerra mundial e a grande depressão nos EUA, o Grande Gatsby era uma análise fria de como uma sociedade cria ícones e os destrói as vésperas de um dos mais caóticos momentos da história moderna.
No filme, Gatsby (Leonardo DiCaprio, interpretando como se estivesse de férias na Bahia), é o rico e misterioso vizinho de Nick Carraway (Tobey Maguire). Suas famosas festas tomam as madrugadas de todo dia, desfrutando de luxo e luxúria e algumas extravagâncias. Do outro lado da bahia onde habitam, mora Daisy (a insossa Carey Mulligan), prima de Nick e paixão antiga de Gatsby. Hoje, casada com Tom, vive com o que há de melhor e não abre mão disso.
A novela mexicana que acontece com todo mundo a partir daí é de doer a alma. Gatsby ama Daisy, que vive com Tom, que tem trezentas amantes, que tentam seduzir Nick, que na verdade ama Gatsby, mas sem que o espectador saiba isso de verdade. O problema desta história não é nem a história em si, mas a forma com que Luhrmann resolveu contá-la.
Para aqueles que não sabem, o diretor ficou famoso por Romeu+Julieta e Moulin Rouge e simplesmente quis repetir toda a estética destes filmes, seja visualmente durantes das festas na mansão de Gatsby, seja na trilha sonora que usa músicas atuais e alguma coisa da época em que se passa o filme. Mesmo com todas estas aliterações, o que temos é um filme sem alma, inssosso, insípido, sem inspiração e sem vontade de existir. Todos os atores parece estar agindo no automático de modo que cada fala, cada cena é feita de forma robótica, inumana e isso acaba afetando o espectador que simplesmente tem vontade de dormir na sessão.
Não há empatia pelos desejos e pelos segredos de Gatsby, Nick ou Daisy. É como se o mundo tivesse perdido suas cores, sua razão de viver. Por mais que o diretor e o diretor de fotografia tentassem mostrar cores, brilhos e luzes da ribalta, o que se vê é apenas um mundo visto pelo microscópio, com todas as explicações e excessos que somente um roteiro e um diretor não inspirados poderiam nos trazer. A narrativa de Tobey Maguire é pedante, monótona e cansativa, os subterfúgios de pós produção de fazer palavras que eram narradas ou datilografas surgirem como fantasmas na tela não só destoam totalmente do filme como cansam a vista do espectador que começa a procurar ali alguma explicação para aquele filme ser tão morto.
Ainda, o 3D é de péssima qualidade, criando apenas uma camada extra em frente aos atores, desfocando objetos conforme a necessidade do diretor querer os mostrar.
Por fim, o visual do filme, por mais esplendoroso que possa parecer, é coalhado de hiper exposição e realismo em situações que fazem ver o quanto o diretor está se repetindo, seja nas tomadas aéreas, nos close-ups e nos ângulos de câmera que praticamente repetem seus demais filmes. O filme é de uma beleza falsa, péssimas atuações e uma estupidez sem tamanho. Não se poderia esperar nada mais de um diretor que após o fracasso de Australia, outro filme maravilhoso por fora, mas sem qualquer profundidade, só conseguiu fazer curtas. O lugar do diretor é como cinematógrafo de diretores bem melhores que ele, talvez assim ele pudesse contribuir melhor para o universo do cinema.
Ainda vou ver, mas já perdi a empolgação…