Em Hollywood, quando uma franquia de filmes se revela um grande (e inesperado) sucesso, a regra interna deve ser “espremer a fruta até não sobrar nem o bagaço”. Mesmo quando, por motivos diversos, o diretor ou o astro das produções decidem abandonar o barco. Mas, na maioria das vezes, o resultado fica muito abaixo do esperado e acaba se tornando um fracasso de crítica ou bilheteria, como “O filho do Máskara” ou “XXX 2 – Estado de Emergência”, só para citar alguns exemplos mais recentes. Porém, alguns casos, se não são melhores do que as obras originais, pelo menos são competentes o bastante para manter o interesse. Isso é o que acontece em “O legado Bourne” (“The Bourne legacy“).
Após a consagração da série de filmes sobre o espião desmemoriado, baseado nos livros de Robert Ludlum, que culminou até com três Oscars técnicos conquistados por “O Ultimato Bourne“, em 2008, os produtores acharam que era possível fazer mais uma continuação. Mas eles não contavam que Matt Damon, o protagonista, e o diretor Paul Greengrass não quisessem retornar. Por isso, resolveram continuar a franquia com quase tudo diferente, com um novo ator e uma nova trama, que seria uma espécie de “universo expandido” do universo de Jason Bourne.
No lugar de Damon, foi contratado Jeremy Renner, que virou uma estrela ascendente após a indicação de Melhor Ator para o Oscar em 2009 por “Guerra ao Terror” e conseguiu bons papéis em produções como “Atração Perigosa” (onde ganhou uma nova indicação, agora como coadjuvante) e os arrasa-quarteirão “Missão: Impossível – Protocolo Fantasma”, além de “Os Vingadores”. No filme, ele vive Aaron Cross, integrante de um programa chamado Outcome, semelhante ao Threadstone (que criou Jason Bourne). Após os eventos do terceiro episódio, um dos responsáveis pelo projeto, Eric Byer (Edward Norton, que esteve no Brasil para divulgar o filme e participar da Rio+20) decide apagar todos os registros e matar os agentes. Mas Cross sobrevive a um atentado num isolada região montanhosa e volta para a civilização para um acerto de contas e obter medicamentos essenciais para se manter vivo.
Em sua busca, Cross consegue como aliada a Dra. Marta Shearing (Rachel Weisz), após salvá-la da morte durante a “operação limpeza” ordenada por Byer. Ela ajudou a criar os remédios usados no projeto secreto e acaba se tornando essencial para que o agente consiga o seu objetivo, que está nas Filipinas. Os dois partem para aquele país, enquanto tentam escapar de uma perseguição implacável de seus superiores.
Apesar de uma premissa interessante, “O Legado Bourne” é bem menos eletrizante do que os filmes anteriores. É um pouco longo demais e cansativo, já que muita informação é jogada na tela durante 2/3 de projeção. Nos últimos 30 minutos, a ação fica mais acelerada e até empolga. Mas até lá, pode ser que muito espectador fique até entediado. Tony Gilroy, que escreveu os três primeiros episódios, agora também assumiu a direção da quarta parte. Mas ele não é Paul Greengrass e nem chega perto do nível de Doug Liman (que comandou “A Identidade Bourne”). O novo diretor faz um trabalho correto, mas pouco vibrante, embora as sequências de perseguição por Manila sejam boas. Mas no geral, não deixa de ser decepcionante.
Quanto a Jeremy Renner, ele foi até uma boa escolha para o papel, já que ele se habituou a fazer personagens destemidos, porém um pouco desequilibrados. E seu Aaron Cross é um pouco das duas coisas, embora seja uma verdadeira missão impossível superar o carisma de Matt Damon. Outra coisa estranha no filme é que, enquanto o público ficava intrigado com a questão sobre a real identidade de Jason Bourne, o seu “substituto” não tem nada de muito misterioso, o que pode causar um certo distanciamento do espectador. O resto do elenco (que tem a volta de Joan Allen, David Strathairn, Albert Finney e Scott Glenn, dos episódios anteriores), está apenas correto, sem grandes atuações.
“O legado Bourne”, obviamente, foi pensado como o início de uma nova série de filmes e, por isso, há algumas questões que podem ser resolvidas em futuras produções, caso ele faça sucesso nas bilheterias. Não que não mereça, mas a impressão que dá é que, se tivessem parado em “O ultimato Bourne”, já estaria bastante satisfatório. Mas já que ele foi feito, talvez tenhamos mais capítulos no futuro. Quem sabe com a volta de Matt Damon e uma união entre os dois agentes? Só o tempo dirá…
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