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O limbo que é “A Comédia Divina”

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Quando as bases – especialmente do argumento – são boas, mas a execução não alcança esse ponto de partida. Na verdade, isso é até recorrente no cinema brasileiro, mesmo que ultimamente o paradigma esteja enfraquecendo. Não é o caso de “A Comédia Divina”, novo longa do diretor, Toni Venturi (“Estamos Juntos”).

Com a crise iminente do inferno pelo fato das pessoas estarem pecando menos, e o indo para o Céu, o Diabo (Murilo Rosa) resolve comprovar sua astúcia na Terra: abre uma igreja satanista para recuperar a população pecadora. E o faz como o fenômeno das igrejas neopentecostais: liturgia moderna e atrativa. E com pretensões midiáticas. Para tal, encontra a jornalista Raquel (Monica Iozzi), uma jovem ambiciosa que viveu um casinho com o colega de profissão Mateus (Danton Vigh) e ainda é almejada pelo ex-namorado Lucas (Thiago Mendonça). Através dela, o capiroto planeja usar a TV  a seu favor no intuito de expandir seu poder de persuasão e disseminação do pecado cotidiano.

A história lança questões interessantes e hilárias sobre o antagonismo de bom e mau no indivíduo em sociedade, até pela figura plácida de Deus (Zezé Motta, ótima). Mas o roteiro prefere sempre a opção da comédia fácil ou do conflito banal. Tanto que o romance mal-ajambrado entre Raquel e Lucas ganha mais atenção que o conflito de valores entre a protagonista e o tal diabo.

Adaptado da obra de Machado de Assis (“A Igreja do Diabo”), os diálogos são pobres e a dramaturgia construída em cima de previsibilidades. Se não funciona como crítica social nem como comédia comportamental, o filme cai num limbo bocejante que nem as poucas boas piadas com os clichês das igrejas, transportadas para os cultos diabólicos, salvam seu resultado.

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