Em sua curta (porém, exemplar) filmografia, o diretor americano Paul Thomas Anderson criou um elo em comum com os seus protagonistas, por mais diferentes que possam parecer. Se olharmos com mais atenção para Dirk Diggler (o ator pornô de Boogie Nights – Prazer Sem Limites), Frank T. J. Mackey (de Magnólia), Barry Egan (de Embriagado de Amor) ou Daniel Plainview (de Sangue Negro), podemos reparar que todos eles são personagens com uma grande inquietação interna, que os faz perder o controle da situação quando tentam, desesperadamente, acertar nas suas escolhas. Isso também ser observado em Freddie Quell, em O Mestre.
No filme, o primeiro de Anderson após cinco anos, acompanhamos a jornada de Freddie Quell (Joaquin Phoenix) de volta aos EUA depois de servir à Marinha durante a II Guerra Mundial. O problema é que ele não consegue parar em nenhum emprego por causa de seu temperamento desajustado, sua queda por mulheres e, principalmente, pela bebida. Sem saber para onde ir, numa noite, acaba invadindo um barco e cai nas graças de Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), que lidera uma seita religiosa, conhecida como A Causa.
Aos poucos, Freddie acaba se envolvendo cada vez mais com o chefe do culto, que mistura diversos assuntos, como regressão espiritual e astronomia, em seus sermões para os fiéis. Mas, ao mesmo tempo em que parece ter encontrado um caminho para a sua vida, ele resiste para não ser controlado nem pelo Mestre nem por sua esposa, Peggy (Amy Adams), que acredita que o ex-marinheiro é um caso perdido.
O Mestre não é, ao contrário do que foi divulgado incialmente pela mídia internacional, somente um filme inspirado na Cientologia, religião que tem, entre outros seguidores, astros como Tom Cruise e John Travolta. A produção se preocupa mais em discutir a luta entre a crença e o ceticismo, representada pelas reações de Freddie diante da Causa. Para contar essa história, Paul Thomas Anderson (que além de dirigir, escreveu o roteiro) conta com uma fotografia espetacular, feita por Mihai Malaimareh Jr, originalmente em 70 mm. Além disso, a trilha sonora de Jonny Greenwood também chama a atenção do espectador.
Mas o principal destaque de O Mestre está em seu elenco, que traz performances incríveis. Joaquin Phoenix dá um show de interpretação como Freddie Quell, onde mostra toda a sua dor e angústia, que é representada não só por seus ataques de fúria quando é contrariado, como também por sua postura curvada. Se o espectador não souber previamente, vai acreditar que o ator é mesmo corcunda, como se carregasse um grande peso nas costas. Philip Seymour Hoffman, mais uma vez trabalhando com Anderson, consegue tornar o seu Lancaster Dodds uma figura realmente fascinante e carismática, mesmo quando suas fraquezas ficam mais evidentes, especialmente no fim do filme. Já Amy Adams surpreende ao mostrar que, apesar de ser uma esposa totalmente dedicada ao marido, Peggy não é uma mulher sem fibra e defende seu ponto de vista a qualquer preço com muita vontade.
Embora tenha um ritmo lento, que pode desagradar boa parte do público, O Mestre ganha pontos ao oferecer ao espectador um filme para pensar sobre o que é mais importante na vida: acreditar num dogma religioso (seja ele qual for) ou em seus próprios instintos? A resposta está dentro de cada um de nós.
[xrr rating=3.5/5]
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