Espanha, século XIX, época de guerras e perigos e uma família decidem viver isolados da sociedade em um lugar afastado onde praticamente não há vida. A pequena unidade familiar formada por pai, mãe e filho dificilmente recebe visitas, e seu objetivo é levar uma existência tranquila. No começo conseguem, mas o aparecimento de uma criatura misteriosa e violenta que começa a perseguí-los colocará à prova o relacionamento que os une.
Análise
O Páramo do diretor catalão David Casademunt desenvolve com sua narrativa uma atmosfera sufocante que dura até o final do filme sem permitir que o espectador se perca na história.
A dupla mãe e filho (Inma Cuesta e um promissor Asier Flores) se conectam com o espectador e depois o guia por uma história de maturidade e terror psicológico. A eles se une Roberto Álamo que, apesar de uma menor presença em palco, consegue implantar fortemente o seu lugar, e os seus dois breves monólogos conseguem fazer o espectador reviver os fantasmas do passado de seu personagem graças a um olhar inundado de medo.
Cuesta e Asier Flores alcançam resultados magníficos. Por um lado, Inma deixa sem palavras com uma atuação sólida que mostra progressivamente o desgaste físico e psicológico de uma mente atormentada que acaba sendo piorada pela doença.
Por outro lado, Asier, tão pequeno, mas tão grande ao mesmo tempo, oferece uma interpretação firme com uma grande evolução. Começa como uma criança pequena, fraca, criada com muito amor, curiosa demais, e capaz de cuidar e garantir ações responsáveis para o bem de sua família. Além disso, acaba demonstrando uma grande capacidade de enfrentar os problemas que surgem, sendo apenas uma criança, que, afinal, foi forçada a amadurecer.
Um roteiro competente
O maior perigo para O Páramo é sua localização, que pode fazer com que o roteiro e as ações caiam em uma rotina chata. No entanto, graças a seu roteiro que explora habilmente os antecedentes para impulsionar a ação, o problema é contornado até que o terceiro ato se aproxima, onde a história tropeça levemente.
Da mesma forma, nesta história sobre maturidade são vistos alguns erros típicos de possíveis começos, como as narrações em voz alta dos pensamentos dos personagens. Embora seja útil como ferramenta, é um caminho sem originalidade que vai contra a corrente do que esta história especial propõe.
No entanto, apesar disso, ainda é uma boa história sobre como o perigo sempre pode espreitar, mesmo que seja da nossa própria mente. A atenção é colocada na jornada pessoal de maturidade de Diego, que na ausência de seu pai e no perigoso desgaste psicológico de sua mãe terá que enfrentar medos e, o mais importante, entender a situação que está enfrentando.
O início de um estilo atraente
Casademunt consegue mostrar com O Páramo um estilo gerencial ainda a ser definido, mas que já revela traços pessoais e distintivos que, infelizmente, colidem nesta ocasião com um uso por vezes clichê da música em filmes de terror. A composição musical do filme é elegantemente funcional quando se trata de narrar algumas cenas. Gera cenas de terror que funcionaram perfeitamente, mas os hits musicais, embora não sejam muito recorrentes, parecem convencionais demais para uma proposta original como esta.
Por outro lado, temos uma ótima fotografia hiper-realista que não fica muito atrás na história. A iluminação é o elemento principal dando vida aos elementos inertes e alterando as dimensões do espaço de forma excepcional. As ricas luzes de fundo funcionam de forma eficaz, e a paleta interior quente, mas às vezes pálida, é contrastada com cenas externas noturnas e frias, aterrorizantes que deixam o espectador prendendo a respiração enquanto a ação se desenrola. Concluindo, a fotografia de Isaac Vila é brilhante e decisiva para criar uma atmosfera que o envolve totalmente.
Conclusão
Desenvolvido com os elementos clássicos de um terror folclórico, onde predominam os trajes típicos da época, pouca iluminação à noite e uma atmosfera densa que ajuda a manter a tensão; O Páramo é uma boa estreia solo do diretor Casademunt que consegue consolidar uma história usando terror psicológico para apresentar seu conto de maturidade com um roteiro inteligente e bem escrito.
Embora, seja um filme que ainda contém imperfeições, mas é disso que trata o começo. David Casademunt consegue se colocar no centro das atenções com essa história distinta, e aguardo mais deste diretor agora em diante.
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