É num contexto de família que as relações afetivas são mais humanas. É com essa sensação que saímos ao fim da sessão do ótimo “O Passado”, novo filme do diretor iraniano Asghar Farhadi, o excelente realizador de pérolas como “Procurando Elly” e o vencedor do Oscar, “A Separação”. Farhadi tem uma personalidade artística que prima, com impressionante habilidade, pela organicidade narrativa de suas histórias. Constrói suas tramas deixando que a aparente normalidade cotidiana revele a complexidade dos indivíduos que fazem da noção de família um microcosmo social em tempos tão diversos. Ahmad (Ali Mosaffa) vai de Teerã para a França a fim de formalizar o seu divórcio com Marie (Bérénice Bejo, ótima), de quem já está separado há quatro anos. Lá, ele se vê numa situação caótica. Marie está morando com as duas filhas de seu primeiro casamento. A mais velha, a adolescente Lucie (Pauline Burlet), é contra o atual relacionamento de sua mãe. Isso porque Samir (Tahar Rahim), que tem um filho de aproximadamente oito anos, é casado, mas sua esposa encontra-se em estado vegetativo no hospital por conta de uma tentativa de suicídio. A delicada situação resulta em embates entre todos os personagens.
O filme é a humanização de seus conflitos em suas diversas perspectivas. O roteiro (que só se estende um pouco demais em seu terço final) vai fermentando muito consistentemente os pontos de vista que fluem dessa relação familiar que diz muito sobre como a resignação e a razão podem desconstruir certezas aparentes. A esperança de um ex-marido, a expectativa de uma mulher que enxerga na gravidez sua redenção familiar, a acepção pueril, mas cheia de uma verdade incômoda das crianças, todos são elementos vorazes nas mãos do diretor para impor sua visão impiedosa sobre como a vida não precisa de maniqueísmos para ser representada. Basta deixar que os gestos e impulsos humanos ganhem a dimensão necessária para serem refletidas na tela do cinema. Um filme que precisa ser visto!!!
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