Luc Besson é o diretor que mais assimilou os maneirismos do cinemão hollywoodiano, sem perder a verve autoral em seus trabalhos. Não é à toa que é tão atuante como produtor quanto como diretor. A diversidade temática e a potência fílmica de seus frutos só o tem agregado valor. Lucy, seu novo lançamento, é um atestado de sua maturidade, mesmo sendo um blockbuster em sua essência mais clara. O próprio ponto de partida já demonstra boa dose de tutano: a teoria de que os humanos se valem de apenas 10% de seus cérebros. Os que conseguem ultrapassar essa capacidade, se apropriam de “poderes” da paranormalidade.
Lucy (de uma Scarlett Johansson espetacular em todos os sentidos) é uma espécie de periguete, que está em Taiwan e acaba sendo “mula” transportando uma droga experimental e muito perigosa, para o namorado. A substância acaba dominando seu organismo, potencializando as funções de seu cérebro. Isso acaba por desencadear toda a trama (corrente), principalmente quando ela procura elucidar o que está acontecendo consigo, com a ajuda de um neurocientista vivido por Morgan Freeman.
A forma como Besson conduz sua história, remete muito as elucubrações visuais de Danny Boyle ou a montagem pop de Tarantino. A linearidade ilustra os extremos e conta bastante para o dinamismo certeiro do filme. A história evolui com uma habilidade absurda, a ponto de nem percebermos o tempo passar. O roteiro, do próprio diretor, traduz o absurdo do tema justamente na sua busca por justificativas (pseudo) orgânicas, tornando tudo muito divertido e persuasivo.
Mesmo que seu final careça do mesmo apuro com que a narrativa vinha apesentando, Lucy acaba se destacando por ser uma conjunção de fatores que refletem o melhor do entretenimento onde a história, a representação gráfica e cênica, e a fluência narrativa estão numa sintonia pouco vista ultimamente no cinema. Luc Besson – que já havia comprovado vitalidade artística no bom A Família, ano passado, alia todas suas boas sacadas de realizador e produtor e faz um de seus melhores filmes. Daqueles em que a metalinguagem do cérebro faz todo sentido.
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