Um homem consegue um estágio em uma misteriosa empresa londrina com funcionários não convencionais, incluindo o carismático CEO que está incorporando estratégias corporativas modernas a antigas práticas mágicas.
Análise
Ao assistirmos filmes e séries de fantasia recentes é notório a tendência de caírem em todos os tropos do desenvolvimento de jovens adultos, como a série Lockwood & Co. (2023) ou a saga Animais Fantásticos e Como Encontrá-los, que acabam em detrimento do que o faz funcionar na literatura, razão pela qual O Portal Secreto consegue fazer as pessoas acreditarem novamente no gênero.
Baseado no romance homônimo de Tom Holt, o filme é dirigido por Jeffrey Walker e estrelado por Patrick Gibson (o Nikolai Lantsov de Sombras e Ossos), Sophie Wilde (Fale Comigo), Sam Neill (Jurassic Park) e Christoph Waltz (Bastardos Inglórios) e é uma grande surpresa de fantasia urbana graças à sua boa narrativa.
Ao invés de focar em efeitos especiais e explicar uma mitologia complexa, O Portal Secreto mostra uma paciência incomum ao apresentar seu mundo aos poucos, com muito cuidado em seus personagens e nos pequenos dilemas cotidianos que tornam sua história pessoal mais importante do que as aventuras que eles irão viver.
Uma sátira trabalhista em tempos de desemprego e crise
Uma das chaves é o roteiro, escrito por Leon Ford, que adapta o primeiro livro da série de sete partes de Holt, e não comprime nada do que serve ao propósito do centro da história, a vida de Paul Carpenter e Sophie Pettingel, dois estagiários com problemas financeiros ( um olhar sobre a juventude precária que geralmente falta nesse tipo de ficção) que começam a trabalhar em uma misteriosa empresa londrina chamada JW Wells & Co. A empresa não é de negócios comuns, mas algo que envolve seres mágicos.
Todo o resto é aleatório, embora o cerne da história pareça ser os mistérios da empresa e como estão usando estratégias corporativas modernas para perturbar o antigo mundo da magia. Paul e Sophie se encontram no meio de um conflito entre Humphrey Wells, o carismático CEO da empresa, e Dennis Tanner, um implacável gerente intermediário, que têm planos diferentes para o futuro.
As referências ao trabalho de JK Rowling podem ser óbvias, mas na realidade o mundo posado está cheio da magia de Michael Ende de A História sem Fim, CS Lewis de Nárnia, ou Terry Gilliam de ‘Brazil’ e até mesmo o terror juvenil de RL Stine.O Portal Secreto é um filme modesto, dirigido para uma plataforma, mas sua fatura é pensada para a telona, e além de um mundo com dimensões secretas, teletransporte dimensional e outras ideias que quebram o mundo cinza de uma Londres automatizada, temos ao goblins, dragões e outras criaturas fantásticas.
Uma fantasia romântica e bem britânica
Ao contrário do CGI que preenche as telas, as aparições se reduzem a pequenos momentos em que o mundo fantástico invade a realidade, até seu final, em que alguns goblins aparecem como em ‘As Bruxas’ de Roald Dahl e pela mão da Jim Henson Co, já que o filme é uma coprodução entre a empresa e a Story Bridge Films, e apresenta alguns bonecos tradicionais e animatrônicos.
O Portal Secreto é um daqueles lançamentos que não ganhou um grande marketing, e que são percebidos pela maneira que sua narrativa é construída e que mesmo após quase duas horas,nem sentimos o tempo. Divertido e comovente, combina fantasia e comédia com um toque de sátira e brinca com a ideia de dimensões através de portas.
Mas talvez sua maior peculiaridade seja que, sob sua camada de aventura fantástica, se esconde uma insólita comédia romântica, que nunca perde o foco na história adorável de seus protagonistas sem ser muito enjoativa ou cafona, superando mecanismos desse tipo de adaptações para se firmar. … como uma deliciosa raridade na paisagem do cinema familiar comercial.
Se há uma possível desvantagem, é que deixa um gostinho de quero mais, com a sensação de pode ser o piloto de algo maior que seria legal ter a oportunidade de ver desenvolvido em forma de série ou trilogia.
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