É lindo. Sim, esse é o adjetivo: lindo. Lindo quando o cinema, com todas as ferramentas que tem em mãos, consegue transcender para além do que se vê. O Primeiro Homem seria a cinebiografia de Neil Armstrong, o astronauta que se tornou o primeiro homem a pisar na lua. Mas o cineasta por trás do filme é o brilhante Damien Chazelle, aquele mesmo que faz de seus filmes verdadeiras parábolas sobre a busca. Seja pela precisão métrica e emocional de Wiplash ou pela compreensão lúdica e etérea de La La Land.
Ao invés de construir seu drama pela linearidade biográfica de seu protagonista, Chazelle se baseia no livro de James R. Hansen, e com roteiro de John Singer (que ja tinha feito um trabalho preciso em outra adaptação, o oscarizado Spotlight, desenvolve o homem através de seus dramas pessoais. Procurando com isso, justifica-lo. Se Chazelle é o cineasta da busca, aqui ele parte da perda para manter sua obsessão.
Neil (em interpretação cuidadosa de Ryan Gosling) parece o tempo inteiro absorto em sua introspecção. Para com os desafios de seu trabalho na NASA e para sua vida pessoal. Seu casamento parece se definir assim, sobretudo na ligação afetiva com sua esposa (Claire Foy, que consegue ser a pulsação mais espontânea da trama). Entre seu drama pessoal e sua obstinação profissional, Neil é a resignação entre a perda e a busca. O filme se encontra no que tange essas metades. Damien se arrisca. Faz um filme longo, de ritmo lento e com pausas demoradas sem diálogos. Bem diferente de seus filmes anteriores. Mas não necessariamente monótono.
O tempo é necessário para entrar na alma de Neil. E o diretor usa de todo o seu talento para transformar isso em imagens. E som. Ele continua muito musical. Para ter uma noção, ele constrói toda uma cena de primeira viagem espacial praticamente apenas usando som, prescindindo de imagens mais amplas. Sua grande angular é curiosamente claustrofóbica. Na tal cena em que o homem chega à lua, quando Chazelle manipula o espectador só com (a falta de) som, o cinema em que eu estava, ficou num silêncio de perda de fôlego. Isso é muito genial.
Mas para além disso, o filme quando chega no seu ápice, acaba revelando que não era bem a chegada do homem à lua que mais importava, mas sim o que ele queria expurgar lá. Aí sim, a história se coroa com sua cena mais bonita. Para além do se vê, O Primeiro Homem ali representa mais do que mostra. E é lindo. Dolorosamente lindo.
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