Com uma diferença de algumas semanas chegaram aos cinemas em 2014 “O Protetor”, com Denzel Washington, e “John Wick: De Volta ao Jogo”, com Keanu Reeves. Ambos se estabeleceram como franquias relevantes de ação recentes e, coincidentemente, também chegaram a um suposto derradeiro capítulo no mesmo ano, sendo que no caso de John Wick já sabemos que foi “pegadinha”, um quinto longa já foi anunciado. As tramas são semelhantes, sobre um homem que é a própria encarnação da morte, de volta à ação. No caso de John Wick, um assassino com habilidades impressionantes, já Robert McCall, um ex-top agent praticamente imbatível.
Em “O Protetor: Capítulo Final”, vemos McCall (Denzel Washington), que depois de depois de desistir da sua vida como assassino do governo, lutando para compensar as coisas horríveis que fez no passado fazendo justiça em nome dos oprimidos. Encontrando-se surpreendentemente em casa no sul da Itália, ele descobre que seus novos amigos estão sob o controle dos chefes do crime locais. À medida que os acontecimentos se tornam mortais, McCall obviamente vai se tornar o protetor dos seus amigos, enfrentando a máfia.
Logo no início, somos reconectados ao personagem, cinco anos depois do último longa, naquilo que se tornou a marca registrada da franquia: McCall trucidando os oponentes observando o cronômetro do relógio, verificando o quão rápido executa a ação. Mais curto episódio da série (1h44) é também o que traz a trama mais simples e despretensiosa. O arco do protagonista com as mão sujas de sangue buscando a paz, mas ouvindo o chamado de volta à ação não chega a ser uma novidade (de “Rambo III” a “O Poderoso Chefão: Parte 3”), inclusive a própria franquia parte desse mote. E fica claro que o tom pretendido foi o da despedida, que pelo menos até segunda ordem.
O roteiro, mais uma vez assinado pelo trio Richard Wenk, Michael Sloan e Richard Lindheim é mais episódico do que o do filme anterior, permitindo que quem estiver chegando de paraquedas não tenha a compreensão obstruída, embora não tenham a mesma fruição dos já iniciados. As conexões com com os antecessores estão bem estabelecidas, sobretudo a que envolve a personagem de Dakota Fanning.
Fica incômodo apenas a motivação de McCall para bancar o protetor do local, que parece um pouco simplista, quase um pretexto para haver uma nova trama em um cenário distinto. E todo o desenrolar do fio condutor parece repetir a trama do filme 2.
Na direção, Antoine Fuqua se mostra não só à vontade (os três longas são dele) mas também com uma certa ambição artística. Não que não houvesse nos capítulos anteriores, e isso sempre foi um diferencial, mas neste, o requinte na movimentação de câmera, nos enquadramentos ficam bastante evidentes, devidamente adornados pela inspirada fotografia de Robert Richardson. Outrora colaborador de gigantes como Oliver Stone, Quentin Tarantino e Martin Scorsese, ele foi a escolha acertada e é impossível não se ater aqui a maneirismos estéticos de trabalhos feitos por ele como “Assassinos por Natureza”, “Kill Bill”, “A Invenção de Hugo Cabret” e outros.
Denzel Washington continua fazendo a diferença no papel de McCall nesse “O Protetor 3”, em uma interpretação com variados tons que somente um ator dessa grandeza é capaz de imprimir a um personagem que, teoricamente, é apenas um herói de ação. Washington empresta toda a sua elegância para construir um protagonista tão pomposo quanto soturno, e a sua comunicação através apenas dos olhares (que gera conexão imediata com os já iniciados em “O Protetor“) causa gelo na espinha quando precedem as cenas de embate (muito bem coreografadas).
A agente Emma Collins, interpretada por Dakota Fanning, funciona como uma sidekick que poderia perfeitamente ser aproveitada em um futuro filme, ou spin-off. Os vilões mafiosos são bastante caricatos e chegam perto de comprometer a credibilidade, sorte que são eclipsados pela grandeza de Washington.
Por fim, “O Protetor: Capítulo Final” se for de fato o desfecho como dá a entender (nunca se pode afirmar com convicção), é bastante satisfatório. Não é feérico como “John Wick 4”, até porque a série tem um outro tom. E se não pode ser considerado o melhor dos três (o primeiro é o campeão), é coerente com o que foi apresentado e não é exagero colocar a trilogia “O Protetor” entre as melhores do cinema de ação.
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