O pulso que sobra na incorporação cênica, é a principal falta na direção de "Álbum de Família"

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Muitos foram os fatores para que “Álbum de Família” fosse incessantemente aguardado: embate cênico entre Meryl Streep e Julia Roberts, adaptação de peça premiada com os conceituados prêmios Tony e Pulitzer, fotografia (belíssima) do brasileiro Adriano Goldman, além de indicações à prêmios importantes como Globo de Ouro e SAG.


Fora que a história em si já trazia muitas possibilidades dramáticas, mesmo com a pecha clara de “filmes de Oscar“: um acerto de contas familiar, depois do suicídio do patriarca, principalmente pela vida ordinária com uma matriarca entregue a amargura cotidiana. Toda a família aparece para ir ao enterro. As três filhas, Barbara (Julia), Ivy (Julianne Nicholson) e Karen (Juliette Lewis), Bill (Ewan McGregor) e Jean (Abigail Breslin), marido e filha de Barbara, Steve (Dermot Mulroney), o namorado cinquentão de Karen, e a irmã de Violet, Mattie Fae (Margo Martindale) acompanhada de seu marido e filho. Dessa reunião esvai-se amarguras e revelações que vão reconfigurar as chagas que marcam essa família, um tanto particular. O roteiro procura extrair toda força dramatúrgica do texto teatral original e, ainda que por vezes não consiga desviar de sua própria teatralidade, entrega diálogos que se equilibram firmemente entre a humanidade e o cinismo de se seus personagens.

Num elenco com Meryl, Julia, Chris Cooper, Benedict Cumberbatch, Margo Martindale, todos muito bem, não tem como a incorporação retratada não encontrar legitimidade emocional que valha. Os diálogos e os olhares trocados entre Meryl e Julia são simplesmente geniais. Um trabalho de instinto claramente premeditado, preciso e orgânico. O problema do filme está em sua direção, um tanto relaxada demais, deslumbrada demais e até relapsa demais com o material humano e discursivo que tem em mãos. “Álbum de Família” carece da firmeza (estética? emocional?) que coloca os pontos propositivos de uma trama como essa nos seus devidos lugares. Acaba que fica um filme solto demais em seu caos emocional. Daí, mesmo diante de tantas emoções à flor da pele (dignamente defendidas!), fica a sensação de que o sensacionalismo falou mais alto que a expressão do que aquele acerto de contas familiar estaria por nos dizer.

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