O Sol do Meio Dia marca o retorno de Eliane Caffé por detrás das câmeras, depois de um hiato de 6 anos desde a estréia de seu longa anterior, Narradores de Javé. E a diretora está mais uma vez em sua área de conforto, no interior quase esquecido de um estado brasileiro longe das modernidades e problemas urbanos que normalmente dão as caras nas televisões e telas de cinema. Porém, essa vontade (e habilidade) de mostrar locais pouco conhecidos pelo grande público brasileiro nada mais é do que pano de fundo para melhor explorar os personanges e seus dramas.
José Carlos Vasconcelos é um homem sereno, educado e bastante habilidoso, que vive assombrado pelo seu passado e vê em Matuim Chico Diaz, um faz-tudo-trambiqueiro sempre bem humorado, uma chance de escapar do lugar que lhe rende memórias sufocantes. Após se encontrarem num município qualquer no interior do Pará, ambos partem de barco à caminho de Belém. No caminho, eles passam pelas belezas naturais da amazônia e pegam a mercadoria contrabandeada que Matuim necessita para manter sua cabeça junto à seu pescoço. De início, o estilo desbocado de um e o sorrateiro do outro parecem bater de frente, mas é só uma garrafa de pinga aparecer para que ambos comecem a ser dar muito bem. Tudo parece dar certo até que uma mulher, Ciara Cláudia Assunção, aparece para dividí-los.
O Sol do Meio Dia passeia por vários tópicos, desde a política, até prostituição infantil e o estado em que se encontra a Amazônia, sem nunca parecer forçado ou exagerado, só mostrando situações corriqueiras que acontecem nos confins do país. Isso porque, no fundo, o principal assunto do longa é a amizade. Até onde relacionamentos que se iniciam de maneiras equivocadas perduram? Quanto uma mulher pode interferir na vida de dois homens que a cobiçam? Apesar de parecer um filme cheio de clichês, a sensibilidade da diretora quase sempre leva esses temas por caminhos menos previsíveis.
Como se trata de um drama mais contemplativo, com um protagonista que pouco fala, o filme tem em Chico Diaz o seu grande trunfo. Ele não se limita a ser o alívio cômico do filme (até por que ele está, na verdade, hilário), mas também é o único ator a incorporar com total competência um habitante do interior do norte do país, com todos os trejeitos, vocabulário e expressão corporal que se poderia esperar. Além disso, o ator também ofusca facilmente o resto do elenco em suas cenas mais carregadas de dramaticidade. José Carlos Vasconcelos, que interpreta o suposto protagonista da história, é mais apático do que o seu personagem deveria ser, algumas vezes até inexpressivo demais, prejudicando um pouco a identificação do público consigo. Isso parece explicar o por que de Matuim, um personagem coadjuvante, tem bastante tempo na tela. Já Cláudia Assunção tem um papel que é fundamental para a estrutura da trama e sua interpretação não é ruim, mas a sua personagem tem infelicidade de marcar o momento exato em que o roteiro do filme começa a se arrastar mais do que deveria.
Apesar de seu roteiro simplista e de algumas irregularidades que podem desanimar o espectador menos afeito aos chamados filmes de festival, O Sol do Meio Dia ganha pontos pela maneira como trata seu cenário natural e seus personanges, mas vale à pena, mesmo, pelo tour de force de Chico Diaz no papel da Matuim, uma atuação imperdível.
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