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“O Som ao Redor” falha onde não poderia falhar

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Após seis meses do lançamento, conseguiram trazer “O Som ao Redor”, primeiro longa do diretor Kleber Mendonça Filho para as salas de cinema de Ribeirão Preto/SP e com seis meses de atraso eu digo que não estava perdendo nada.

O cineasta, que acumula a função de diretor, roteirista, editor, departamento de som, sem contar na divulgação e promoção do filme conta, através de algumas memórias de sua rua no Recife, histórias vividas por experiência própria e algumas relativas a fatos de terceiros que ele transforma em ficção e coloca na tela. Ainda assim, a narrativa, apesar de tratar de fatos que poderiam ser colocados a respeito de qualquer rua, em qualquer tempo, de qualquer cidade do Brasil, acabam por se esvaziar com a péssima qualidade dos demais aspectos do filme.

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A começar, pela direção de elenco e do próprio elenco, ambos levados de forma amadora em excesso, por escolha do próprio cineasta e idealizador. Ao tentar naturalizar demais as situações, o mesmo acabou por colocar um grupo de atores que não tinha qualquer naturalidade ou química em tela, ficando com os diálogos mais presos da história do cinema e lembrando muitas peças de teatro amador em que um ator espera o outro terminar sua fala, de forma polida e elegante, tirando totalmente a dinâmica de um diálogo convencional.

Some-se a isso um roteiro fraco, que mais parecia uma cornucópia de situações cotidianas, amarradas na ideia de que todos moram na mesma rua, sob o coronelismo do dono da rua e a vigília dos novos guardas noturnos. A transição de tempo é pessimamente feita, com meses ou até anos se passando em tela sem uma nítida demonstração desta passagem, apenas selecionando alguns fatos que fazem o público forçar a realidade em busca da explicação de como tanto tempo se passou e como que houveram tantas mudanças.

Voltando a falar dos atores, os jovens que fazem os filhos da dona de casa que tem problemas com o cachorro do vizinho e fica fumando maconha escondido, precisam seriamente de aulas de oratória, dicção e de uma fonoaudióloga. Não se entendia nada do que eles falavam, então nem dá para saber se seus diálogos foram bem escritos ou não.

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Não há qualquer tipo de inovação na fotografia e na cinematografia do filme e talvez nem tenha sido esta a intenção do diretor. Ainda assim, esta talvez seja a melhor parte do filme, usando-se de tomadas certeiras para mostrar as discrepâncias sociais e o medo que o rico tem de sofrer uma violência, trancando-se em prédios cheios de grades, cada uma delas mostrada em planos abertos ou em closes bem intimistas, com pessoas encostadas nelas como se presos em grandes presídios.

A temática do som que invade qualquer ambiente, sem ser convidado, é muito interessante e talvez pudesse ter sido melhor explorada, ainda assim o filme se enfraquece ao tentar executar uma crítica social e fugir do tema ao qual se propunha. E apesar dos pesares, o filme foi bem recebido pela crítica especializada e teve uma quantidade boa de público para um filme que não é patrocinado pela Globo e isso já é um mérito por si só. Entretanto, não bastam esses fatores para dizer que o filme realmente é bom pois suas falhas demonstram que ainda há muito chão para que Kleber Mendonça possa realmente ser considerado um cineasta.

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