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O ufanismo exacerbado de “Corações Sujos”

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A História já nos mostrou que a influência desmedida de um indivíduo sobre uma comunidade pode gerar conflitos que transformam para sempre a história dos envolvidos direta ou indiretamente. O foco de “Corações Sujos”, baseado em fatos reais, reside justamente nessa questão: a convicção de um antigo Coronel do exército japonês, residente no Brasil, de que o Japão não poderia em hipótese alguma ter se rendido ao inimigo na Segunda Guerra Mundial. Somente os conterrâneos de coração sujo poderiam acreditam em tal “acusação” e por isso seriam dignos de morte. Em determinado trecho do filme, ele chega a falar em “superioridade japonesa”. Já ouviram discurso semelhante?

É bem verdade que o apego às tradições é uma marca reconhecida e muito apreciada do povo nipônico. A convivência harmônica entre o milenar e o que há de mais novo em termos de tecnologia é alvo mundial de admiração. O filme, no entanto, nos leva a refletir sobre os limites da devoção à história e cultura de um povo. Devemos, sim, respeitar nossas raízes – afinal, devemos o que somos aos nossos antepassados -, mas sem deixar que essa admiração nos cegue. A ideia de pertencer a uma casta superior de seres humanos só nos conduz ao atrito direto uns com os outros e, como no caso retratado aqui, com os membros do nosso próprio povo.

Os diálogos, como não poderia deixar de ser em um filme com elenco composto por maioria de atores vindos da terra do sol nascente, são quase todos no idioma japonês; o português somente é proferido nas cenas que contam com a participação dos atores brasileiros André Frateschi e Eduardo Moscovis. Engana-se quem pensa que vai passar o filme todo de olho nas legendas. O roteiro de David França Mendes consegue trabalhar de maneira muito eficiente com o silêncio – a professorinha que o diga -, o que por sua vez permitiu ao diretor Vicente Amorim extrair grandes interpretações de seus atores. Momentos densos onde as palavras são descartáveis e as expressões insubstituíveis.

Muitos são os movimentos de câmera que chamam a nossa atenção por imprimir o ritmo necessário à história. A direção de arte, figurino e fotografia também têm um papel fundamental nesse filme. O trabalho integrado dessas três equipes reconstituiu com primazia o clima do pós-guerra nas cidades do interior de São Paulo que serviram de locação.

O mote para o longa metragem é o livro homônimo do escritor e jornalista Fernando Morais. Em determinados momentos do filme, percebe-se uma espécie de aceleracão narrativa para que a história possa caber dentro do tempo padrão do cinema mundial. O que não tira o mérito do filme. Muito pelo contrário, esse fator acaba eliminando qualquer chance de termos um filme maçante e arrastado.

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