One Love conta de forma burocrática um episódio marcante na vida de Bob Marley

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Bob Marley foi o responsável não só por popularizar o reggae no mundo inteiro e consequentemente colocar a Jamaica no mapa da indústria fonográfica, como a filosofia rastafári. Uma cinebiografia definitiva do rei do Reggae vinha sendo especulada por anos, até ganhar força após o megassucesso Bohemian Rhapsody, que contava a história do Queen e de Freddie Mercury. “Bob Marley: One Love” até tenta se diferenciar, seguindo um outro caminho que não o da trajetória retilínea como o citado longa da banda inglesa que deu o Oscar de Melhor Ator para Rami Malek, quanto o malfadado “The Dirt”, sobre a banda de hard rock Mötley Crüe. Mas isso não deixou a produção imune a equívocos.

A história de Robert Nesta Marley OM, mais conhecido como Bob Marley, é contada a partir do atentado sofrido pelo grande ícone do reggae na Jamaica. Junto com a esposa, ele deixa o país, mudando-se para Londres, mas no ano seguinte, já famoso mundialmente, decide voltar, pelo povo jamaicano. A partir daí, o filme relembra os importantes feitos do cantor para seu país, assim como as dificuldades por que passou, e como o reggae, ultrapassou fronteiras.

Paramount Pictures

Apesar da estrutura narrativa interessante (que recorre a flashbacks para mostrar fatos da trajetória linear, sem perder o foco do cerne da questão), a trama é conduzida de forma burocrática, quase preguiçosa. É como se no meio do caminho da pré-produção tivessem mudado de ideia e resolvido fazer uma minissérie resumida a um capítulo. A força das canções, o real impacto do reggae no exterior, principalmente no Reino Unido, é apenas pincelado. Vemos uma aparição do The Clash aqui (eles que adicionaram o ritmo jamaicano ao punk), uma pontinha de Mick Jagger ali. E as músicas são colocadas apenas como adorno.

A direção ficou a cargo de Reinaldo Marcus Green, que recentemente comandou uma outra cinebiografia, “King Richard – Criando Campeãs”, que conta a história do pai das irmãs tenistas Venus e Serena Williams. Contudo, possivelmente por estar engessado ao modelo de filme-tributo, não sobrou muito espaço para ousadias criativas ou estéticas. A fotografia de Robert Elswit (de “Sangue Negro” e que já havia colaborado com o diretor em “King Richard”) encha os olhos.

A escolha do ator Kingsley Ben-Adir para o papel de Bob Marley (pelo próprio Ziggy Marley, filho do biografado) causa estranheza por parecer uma versão embelezada do rei do reggae, como se fosse protagonizar um telefilme cafona onde o elenco é escolhido pela plástica. Sua atuação acaba escorregando na caricatura em alguns momentos e sendo refém de um roteiro preocupado com a exaltação do ícone, deixando tudo um pouco redundante. A graça salvadora é Lashana Lynch, que encarna Rita Marley, esposa de Bob, com pujança, sendo ela a força motriz da trama.

Paramount Pictures.

O concerto One Love Peace, que é colocado na mesma posição do Live Aid em “Bohemian Rhapsody” (e isso parece ter virado uma tendência nas cinebios), teve pouco efeito prático, mas foi decisivo para a popularização definitiva de Bob e do reggae, mas o filme o aborda sem reforçar sua inegável relevância.

“Bob Marley: One Love” poderia perfeitamente se tornar a cinebiografia definitiva do ícone do reggae, mas, infelizmente, a retidão com que o projeto foi tratado esvaziou seu arrebatamento. Até o terço final, que poderia ser apoteótico, redimindo a produção (a exemplo do filme do Queen) acaba sendo desperdiçado. Tudo o que não poderia acontecer em um filme que se propõe a explicar a importância de Bob Marley na História da Música.

Bob Marley: One Love

Bob Marley: One Love
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Nota: Regular - 5/10
Nota: Regular - 5/10
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