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Os 30 anos do clássico B “Os Aventureiros do Bairro Proibido”

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Ano passado, li sobre o interesse por parte de Dwayne The Rock Johnson de fazer o remake do cultOs aventureiros do Bairro Proibido”, uma fábula dos anos 1980, e veio a ideia de pesquisar sobre o filme que, em 2016, está completando seus trinta anos.

Lembram-se? Misto de comédia, aventura, artes marciais e trash, é um dos títulos mais emblemáticos de John Carpenter. Não é sua melhor obra, tanto no formal como no técnico, nem chega ao pódio de obras como “Halloween”, “Starman” ou “Fuga de Nova Iorque”, mas é, com certeza, um dos títulos dos anos oitenta com mais referências, clichês, e homenagens subliminares, um verdadeiro “saco de gatos” de tanta coisa que aparece, além de todo tipo de despropósito que ocorreu na filmagem, que faz com que Big Trouble in Little China mereça estar entre os títulos de culto da época.

Porém, quando lançado não atenção da crítica, quanto do público, pois o estúdio focou em “Aliens, o Resgate”, causando seu fracasso em bilheteria, só quando saiu no mercado de vídeo que levou ao status de cultuado. Como outras obras de Carpenter, o mercado doméstico do VHS foi o que perpetuou este delírio que marcaria o fim da carreira de Carpenter como diretor dos grandes estúdios. Uma odisseia, como muitos de suas filmagens, que começou antes mesmo que a câmera rodasse.

Carpenter já tinha passado por outras decepcionantes estreias antes de ‘Aventureiros’. O início da década de 1980 começou suave com “A Bruma Assassina” (1980), após o sucesso descomunal êxito com “Halloween: A noite de terror” (1978).Fuga de Nova Iorque” (1981) devolvia ao público o autêntico estilo de Carpenter, mas foi com “O enigma de outro mundo” (1982) que viria o que os grandes estúdios fazem com o fracasso de bilheteria. “Christine, o carro assassino” (1983) e sobretudo “Starman, o Homem das Estrelas” (1984) foram verdadeiros fiascos, um por não superar as expectativas de dois grandes nomes do terror, King-Carpenter; e o outro pelo simbolismo e o viés humanista que o diretor colocou no filme, que fez com o público não entendesse a mensagem do realizador. Dois anos de preparação para “Os Aventureiros do Bairro Proibido” era muito tempo para a mente inquieta de  Carpenter. A esperança de reunir seu ator fetiche, Kurt Russell,  em uma aventura de efeitos especiais, ação, artes marciais e uma boa comédia, garantiria um cocktail-movie, como ele tratou ao receber o roteiro.

Mas o verdadeiro culpado do fracasso foi Lawrence Gordon, executivo da Fox que produziu o filme, que manipulou, fez o que lhe dava na telha e ainda não conseguia atender e nem entender o estilo de Carpenter. Colocou objeções e mil desculpas durante a produção do filme, desejava outros autores como Jack Nicholson ou Clint Eastwood para o papel de Kurt Russell. Negou-se a contratar Jackie Chan para ser o parceiro de Russell, pois disse que Chan não falava bem o inglês. A edição foi uma sala de tortura e Carpenter teve que se submeter aos caprichos do estúdio, em especial aos do produtor, e via seu filme se reduzir a cenas confusas e cortes sem sentido. Foi a última vez que o diretor suportou os desmandos e os “disse-me-disse” de um grande estúdio, tanto pela manipulação de Gordon, como também a triste campanha comercial que foi feita para sua película.

Mas não foram só os desencontros da produção que geraram problemas. O próprio cronograma do projeto, sem uma planificaçao dos demais estúdios, se viu comprometido com a filmagem de outro filme que seguia os mesmos padrões do roteiro. A Paramount estava aproveitando sua estrela, Eddie Murphy, e estavam rodando “O rapto do menino dourado” (1986). Por sinal, foi também decepcionante como outros títulos do ator, pós-“Tira da Pesada” e um duro revés para as filmagens de Carpenter, em competir com uma ideia parecida no mesmo ano. E o ano de 1986 era um ano ímpar, pelos produções que se destacaram como “Aliens”, “Curtindo a vida adoidado”, “Crocodilo Dundee”, “Top Gun”, “Platoon”, “Karate Kid II” e “Star Trek IV” só para citar alguns.

“O rapto do menino dourado” conseguiu ficar nos Top 10, arrecadando 79 milhões de dólares. Enquanto na posição 71 se encontrava “Os aventureiros do bairro proibido” com seus 11 milhões, nem a metade do que custou, 25 milhões. Atrás de filmes como “O massacre da Serra Elétrica 2″, “Delta Force” e “Criaturas”, que obtiveram melhores resultado de bilheteria. Foi a morte em vida para o diretor nova-iorquino. Não que Carpenter estivesse obcecado com a bilheteria , ele nunca foi , mas as suas ideias, projetos e iniciativas sempre eram pesados para baixo pelos estúdios. Livre e independente, como começou, ele continuou rolando anos mais tarde títulos como ‘Principe das Sombras ” (1987) ou ” Eles Vivem ” (1988).

Uma das coisas boas de se ver foi a união entre Russell e Carpenter. Foi a quarta colaboração após “Elvis” (1979), ‘Fuga de Nova Iorque” e “O Enigma de Outro Mundo”, só voltariam a se encontrar, dez anos depois, em “Fuga de Los Angeles.” Mas algo entre eles começou a distanciar-los nas filmagens de ‘Big Trouble …’. Talvez as muitas discordâncias no roteiro, como o protagonista, Jack Burton, uma espécie de John Wayne descafeinado, um motorista de caminhão falastrão, desajeitado, tímido e bastante arrogante. É o anti-herói perfeito que Carpenter queria. E Russell encontrou naquele personagem, uma abertura em trazer para a tela o seu caráter, ainda mais sabendo que não era o ator escolhido como primeira opção para interpretá-lo, o que nos deu a oportunidade de redescobrir Russell como um bom ator de comédia.

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A historia é bastante rápida, para não dizer afoita, e muito louca, nos levando de imediato à trama em poucos minutos após começar. O submundo do bairro chinês de San Francisco se mescla com combates de artes marciais, máfia, sequestros e três seres de íncrivel poder em apenas 10 minutos de exibição. Num rápido desenvolvimento o filme vagueia entre a comédia casual e as cenas mais bizarras nos porões de uma organização dirigida por Lo Pan (James Hong), um feiticeiro ancestral que busca uma jovem prometida (Suzze Pai) com olhos verdes para possuir seu corpo e conservar seu poder e juventude.

A jovem oriental sequestrada é noiva de Wang Chi (Dennis Dun) amigo de Jack Burton, que se unem para resgatá-la nas catacumbas de Lo Pan. Além deles, uma jornalista novata, bem intrometida, Gracie Law (Kim Cattrall) se une à aventura, sendo também sequestrada por ter os olhos verdes. Ainda tem o tio Egg Shen (Victor Wong), um velho condutor de ônibus para turistas, mas também um feiticeiro que será fundamental para a trama. A loucura foi bem servida. Veremos feitiçaria, seres malvados dando saltos e piruetas, muitas artes marciais, tiroteios, Al Leong, piadas ruins, mas bem utilizadas, um monstro horrível e muita canalhice.

Não é um grande filme em termos oficiais. Não foi bem escrito, nem bem desenvolvido, não possui uma boa montagem e a edição de cenas foi feita aos trancos e barrancos. Entretanto, é possuidor de um espírito indomável, que exala um estilo visual único e goza de uma linguagem sem amarras que, apesar de seus problemas, ainda é visto, trinta anos depois, com um sorriso no rosto. É anos 80 puro e simplesmente, como se vê nas situações impossíveis, no tom niilista da história e, especialmente, nas piadinhas sobre sexo. O público e a crítica não souberam reconhecer a desavergonhada ideia do diretor de mesclar elementos tão díspares como os gêneros das artes marciais, da aventura, da magia e da comedia pelo simples prazer de entreter, apesar dos momentos bizarros, mas que ainda consegue encantar muitos fãs.

Os efeitos especiais contaram com Richard Edlund (‘Caça-Fantasmas’, ‘Star War’s, ‘Caçadores da Arca Perdida’) e, pesando o baixo orçamento que tinha (2 milhões) conseguiu passar algo da ideia de Carpenter. Não é o melhor trabalho de Edlund, pois enquanto trabalhava neste, tinha ainda outros quatro filmes para trabalhar. O roteiro escrito por Gary Goldman e David Weinstein foi adaptado por W.D. Ritcher. Os dois roteiristas conceberam “Os Aventureiros do Bairro Proibido” como um Faroeste fixado na década de 1880, aí o estúdio contratou Richter para reescrever o roteiro extensivamente e modernizar tudo. O estúdio nem queria colocar o nome dos dois roteiristas nos créditos, por causa do roteiro mal escrito. O próprio Ritcher se opôs, dizendo que só aceitaria seu nome nos créditos junto com Goldman e Weisntein.

Um filme que teria muito mais coisa se tivesse acabado como o diretor queria, mas temos que nos contentar com o que o estúdio achou que era a melhor versão. Mais um exemplo (de milhares) de como o filme nunca será livre com empresários metendo o nariz. Uma pena para o Orson Welles dos anos oitenta, John Carpenter.

Leia também:

inema em casa: Halloween – A Noite do Terror

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Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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