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Os Descendentes, um filme simples e brilhante

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Victor Hugo dizia que “a medida do amor é amar sem medida”. E quando o cinema consegue dar forma a esse “desmedimento” de maneira inteligente e simples, o resultado é um filme de grandeza humana tão forte e assimilável que o discurso toma uma proporção até maior que a própria execução fílmica.
O diretor Alexander Payne, dos idiossincráticos Sideways e Eleição, possui uma percepção estética bem característica de seus personagens, em seu universo. E isso é o plus a mais que justifica a história de Matt King (George Clooney, excepcional), um pai de família distante e ocupado que se vê diante de uma tragédia que deixou sua esposa em coma. Ele terá que reunir os filhos e família enquanto lida com a venda de um terreno herdado por seus antepassados, descendentes da realeza havaiana.
Baseado na obra de Kaui Hart Hemmings, a trama não é nada, e Payne sabe disso e vai burilando as dimensões da história com maestria, levando a simplicidade como estratégia de investigação reflexiva dos sentimentos humanos e das co-relações que existem numa amplitude familiar. Matt, ao se reaproximar das filhas – Alexandra (Shailene Woodley), de 17 anos, e Scottie (Amara Miller), de 10, ótimas – sob a sombra de possibilidade da morte da esposa, entra num processo de reavaliação (de si e do mundo) tão visceral que passa a querer resgatar um passado que, na verdade, nunca foi necessariamente um presente. E tudo com o mais fino humor e recheado a diálogos inspiradíssimos.
Mas o que realmente faz o filme ter a grandeza que tem, é a simplicidade desconcertante com que valida aquele retrato tão íntimo sobre sentimentos tão universais e de forma tão eloquentemente assimilável, que saímos do cinema perplexos diante de tamanha habilidade em nos vermos na tela. Em nossas fraquezas e contradições. E naquilo que é comum a todos: a fidelidade, o afeto, o constrangimento, o ressentimento, a revisão, a sensibilidade, o amor… Ah, o amor, que não se estabelece se não for sem medida. Aí, no ponto mais passional dessa história quase fria, que Payne entrega um dos filmes mais sensíveis e adulto da temporada.
[xrr rating=5/5]
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