Bastante popular em décadas passadas, o musical é um gênero em baixa no cinema atual, já que grande parte do público parece ter se cansado de ver na telona uma história com personagens que cantam e dançam em boa parte da trama. Nos últimos anos, poucas produções deste tipo de filme surgiram e conseguiram até fazer sucesso, como “Moulin Rouge – Amor em Vermelho”, “Chicago” ou mesmo “Dreamgirls – Em busca de um sonho”. Mas nenhum deles teve uma proposta tão ousada e corajosa quanto a nova versão de “Os Miseráveis” (“Les Misérables”).
Baseado na obra do escritor Victor Hugo, que também é o autor de “O Corcunda de Notre Dame”, “Os Miseráveis” se passa alguns anos após a Revolução Francesa e conta a história de Jean Valjean (Hugh Jackman), um homem que passou muito tempo na prisão e após cumprir a pena, decide desaparecer e reconstruir sua vida como prefeito e empresário de uma cidade, com um nome falso. Mas o inspetor Javert (Russell Crowe) descobre a sua verdadeira identidade e passa a persegui-lo incansavelmente. Valjean, então, foge com Cosette (Amanda Seyfried), filha de Fantine (Anne Hathaway), que acabou caindo na sarjeta após perder o emprego na empresa do ex-presidiário. Anos depois, Cosette se apaixona pelo jovem Marius (Eddie Redmayne), que está envolvido com uma rebelião de estudantes contra o governo francês. Para proteger o casal, Valjean se envolve no confronto, correndo o risco de encarar o seu antigo algoz.
Por se basear na versão musical feita para a Broadway por Claude-Michel Schönberg (que também participou desta produção), “Os Miseráveis” conta com uma inovação: os atores cantaram “ao vivo” em suas cenas, diferente do que costuma ser, quando as canções são gravadas muito antes da gravação do filme, para dar um efeito mais espontâneo em suas interpretações. A ideia é até interessante, mas não se revela totalmente satisfatória. Enquanto Hugh Jackman e Anne Hathaway conseguem um bom resultado (especialmente a atriz, que realmente emociona ao interpretar “I dreamed a dream”), Russell Crowe decepciona com sua voz inadequada e seu rosto completamente inexpressivo. Nem parece o bom ator de “Gladiador” ou “Uma mente brilhante”. Já Amanda Seyfried é desperdiçada, já que Cosette é um personagem importante para a trama e, inexplicavelmente, aparece pouco. Além disso, sua performance vocal não impressiona. O casal de trapaceiros formado por Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter não funciona muito bem como o alívio cômico da trama, mas não compromete o resultado final. Quem se destaca no elenco de poucos conhecidos é o menino Daniel Huttlestone, que vive Gavroche, um pequeno morador de rua que se une à causa dos rebeldes.
O diretor Tom Hooper, bastante premiado por “O discurso do Rei”, realizou um trabalho muito difícil, já que 98% dos diálogos do filme são cantados e ele conduziu cenas de ação muito boas, especialmente na sequência do confronto entre os estudantes e as tropas do governo francês. Aliás, um dos destaques está na mixagem de som (indicada ao Oscar), com destaque para os tiros das armas usadas nos conflitos. Porém, o ritmo do filme é comprometido com tantos números musicais (alguns realmente desnecessários), que podem acabar cansando o espectador. Principalmente aquele que não está acostumado a ver um tipo de espetáculo apresentado em “Os Miseráveis”.
Por isso, “Os Miseráveis” gera reações de amor e ódio nas pessoas que vão assistir ao filme. Mas, pelo menos, ninguém fica sem nenhuma reação ao que é mostrado na tela do cinema. Principalmente com a interpreação de Anne Hathaway, que realmente impressiona.
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