“Os Saltimbancos Trapalhões – Rumo a Hollywood”: entre a memória e o esquematismo

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Os Saltimbancos Trapalhões (1981), de J. B. Tanko, foi o filme que melhor mimetizou no cinema a essência dos Trapalhões (ou a saudosa convergência entre DidiDedéMussum e Zacarias). Por isso é considerado o melhor filme do quarteto. Os Saltimbancos Trapalhões – Rumo a Hollywood (Brasil, 2017) representa o filme de número 50 de Renato Aragão, e a data redonda coincide com a importância de ser a uma espécie de reimaginação (ou atualização?) do filme de 81.

Dirigida por João Daniel Tikhomiroff, a produção acompanha os bastidores do Grande Circo Sumatra (localizado na fictícia cidade de Barra Feia), que, desde a proibição de animais em espetáculos, tem enfrentado uma grave crise financeira. Diante desta situação, Barão (Roberto Guilherme), o proprietário do espaço, aceita abandonar as atividades circenses para sediar eventos como leilões de gado e comícios do corrupto prefeito Gavião (Nelson Freitas).

Didi entra em cena para manter viva a magia do circo com a ajuda da recém-graduada herdeira do circo, Karina (Letícia Colin), e seus jovens amigos de lona, além do inseparável Dedé. Juntos, decidem empreender um novo espetáculo, que poderá dar novo ânimo econômico para o lugar. Entretanto, por causa do prefeito, do gerente vigente, Assis Satã (Marcos Frota) e sua namorada Tigrana (Alinne Moraes), eles terão muito trabalho para conseguir tal façanha.

O cerne da história e de suas principais músicas, está na peça Os Saltimbancos, de Chico Buarque, Luiz Bacalov e Sérgio Bardotti, e isso só reforça o apelo emocional que o filme já traz em si, até pela luminosa figura do Didi. Eis aqui o grande (e talvez o mais completo) mérito da história revista: Renato Aragão. Seu alcance cômico foi se transformando ao longo dos anos. De sacana para ingênuo, e isso sempre funcionou muito bem para a persona que criou para si.

Mas o roteiro não alcança a medida de seu protagonista. Num investimento equivocado na caricatura e no excesso de subtramas derivativas (há dois casais teens em conflitos de relacionamento), a história dilui a possibilidade de encantamento que aquele universo suscitaria (e que Tanko, lá atrás, compreendeu tão bem) além de se revelar bem esquemática na busca pela nostalgia.

A direção de Tikhomiroff, tão atenta às mise-en-scenes em seu filme anterior, o irregular, mas polido Besouro, aqui não dá ao universo circense o deslumbramento que ele merece. Os números musicais são apresentados de maneira burocrática e pouco inspirada. O final reserva uma surpresa que vai até nos lembrar do DNA do qual esse filme foi retirado. Um sorrisinho afetivo vai escapar de seu rosto bem nesse momento. Entretanto, não será significativo para um aplauso no final.

Cadorno Teles
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Cadorno Teles

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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