Hoje é Halloween (ou Dia das Bruxas, como chamávamos em uma época remota em que a data não era comemorada por aqui). Se você não é muito chegado em festas à fantasia, a boa pedida é sempre assistir a um bom filme de terror. Mas por que filme de terror é tão bom? Por que temos essa atração atávica pela sensação de medo e adrenalina na sala escura, ou em frente à TV (ou computador)?
Filmes de horror fazem sucesso não é de hoje. O pioneiro foi “Castelo do Demônio”, de 1896, dirigido por George Méliès. “O Gabinete do Dr. Caligari” (1919) de Robert Wienne e “Nosferatu” (1922) de W. Murnau sedimentaram a linguagem do gênero pelos anos que se seguiram, quando os monstros da Universal (Drácula, Frankensein, Lobisomem e Múmia) tornaram o Terror uma verdadeira mina de ouro. Os anos se passaram e as tendências se sucederam. Houve fusão com a ficção científica, depois os slashers e o gore dos anos 1980, o terror teen dos 90 e hoje o gênero parece estar vivendo sua era de ouro, com filmes que oferecem qualidade artística e rendem gordas bilheterias, confirmando que enquanto mundo for mundo, vai ter plateias ávidas pela sensação de medo. E qual seria a explicação?
Acontece que, assim como andar de montanha-russa, os filmes de terror nos permitem experimentar uma onda de adrenalina – mas sem a ansiedade decorrente do perigo real. Segundo Arash Javanbakht, psiquiatra e diretor do Programa de Pesquisa e Estresse em Ansiedade e Estresse, Trauma e Ansiedade da Wayne State University, em Detroit, disse à WebMD, “Os circuitos [cerebrais] envolvidos em qualquer tipo de excitação se sobrepõem, então você tem aquela descarga de adrenalina que sente quando faz algo excitante. Precisamos de um equilíbrio entre saber que estamos seguros e também estarmos expostos a algo aterrorizante.”
Ou seja, essa oscilação de sensação de conforto e segurança da sala de cinema ou de casa com a sensação de adrenalina estimulada pelo que está acontecendo na tela nos dá satisfação e desejo por mais. Só que para essa química funcionar adequadamente, precisamos estar de fato envolvidos pela trama e termos empatia com os personagens que estão em perigo. Se John Carpenter não soubesse construir todo um clima de suspense com movimento de câmera, trilha sonora, e sem o carisma de Jamie Lee Curtis, certamente “Halloween” seria apenas mais um filme. O mesmo se pode dizer de Wes Craven em seu “A Hora do Pesadelo”. O Javanbakht disse que, embora sinta-se entediado com filmes de zumbis, longas como “O Exorcista” têm um efeito mais emocional, porque o levam a pensar: “Isso estava acontecendo em um quarto, e agora estou no meu quarto, então quem sabe o que poderia acontecer?”. No entanto essa empatia não pode ser intensa, ou a experiência de ver alguém com uma faca cravada nas costas será extremamente desconfortável e perturbadora.
O caráter incomum das histórias de horror são outro motivo pelo qual nos sentimos tão atraídos. Gostamos do incomum, que nos leva ao escapismo. Por isso o Halloween e o Carnaval são épocas do ano tão celebradas, pelo fator lúdico da fantasia, do faz de conta. E, claro, não há como negar que o Terror une as pessoas. Quem não gosta de assistir a um filme assim abraçadinho com o crush e dar aquela apertadinha na cena mais assustadora? A estratégia marota para se conquistar alguém é convidar para uma sessão de um longa bem horripilante. E mesmo reunir os amigos para conferir aquele lançamento, ou cult, é sempre uma boa pedida. Sentir medo acompanhado, seja para amparar ou ser amparado, seja para rir do susto alheio deixa a experiência bem mais divertida.
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