Ah, Hollywood… Quanto mais a gente ama e é seduzido por essa indústria, mais odiamos suas oportunistas idiossincrasias. Vejam, por exemplo, “isso” que se chama Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, um dos exemplos mais impressionantes do raciocínio e prática desse “sistema” naquilo que entendemos como “cinema-pipoca”. Pegam um ícone da história política americana, criam uma fantasiosa trama vampiresca e heroica para o cara, ainda chamam um dos mais estilísticos diretores do mundo, produzido por outro medalhão “da casa” e o resultado é um absurdo de ilógica previsibilidade.
O filme reconta a história da guerra de secessão americana de uma maneira mais fantasiosa. Ainda jovem, Abraham Lincoln testemunha a morte de sua mãe pelas mãos de um senhor de escravos que também é, claro, um vampiro. Lincoln, então, lança-se numa busca por vingança e acaba um sagaz caçador de sugadores de sangue. Nesse meio-tempo, o Lincoln encontra seu lugar na política e vê nela uma nova maneira de combater seus inimigos. Ou seja, pelo filme, a guerra de secessão tinha motivações anti-vampíricas(!)
Para quem já leu Orgulho e Preconceito e Zumbis, de Seth Grahame-Smith, talvez imagine que esse argumento seja de alguma paródia cômica. Pior é que não é. O escritor fez um roteiro levando a sério a loucura (vindo de outro roteiro pavoroso, o recente Sombras da Noite) e foi endossado por uma (questionável) produção de Tim Burton. É de lamentar que o talento estilístico do russo Timur Bekmambetov seja violentamente desperdiçado num filme que bebe da fonte de todos os clichês possíveis do gênero e ainda comete falácias históricas gratuitas , além de diálogos tenebrosos – então quer dizer que a guerra de secessão americana não foi apenas causada pela questão da escravidão, mas sim uma tentativa de derrotar um crescente império de vampiros, donos de escravos no Sul do país???
Não defendo ideias arbitrárias de que a ficção deva algum crédito à realidade, porém quando uma história não faz sentido nem dentro de seus próprios paradigmas (existem furos gritantes no roteiro), a fragilidade mais visível é o ponto de referência a que está atrelada, nesse caso, uma figura histórica. Isso mostra como a superprodução comete um grande erro de levar a sério demais sua premissa, tirando toda a possibilidade de ir para além de uma aventura histórica e fantasiosa sem qualquer profundidade. Assim, nem o russo consegue salvar um roteiro cansativo, inverossímil e burocrático do desastre total. Sem dúvida, um dos piores filmes de 2012…
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