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Quase um ano em cartaz nos cinemas, “Incêndios” é um soco no estômago…

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Para quem acha que o cinema canadense se resume a melancolia crítico-geracional de Denys Arcand em seus libelos O Declínio do Império Americano e As Invasões Bárbaras, precisa urgentemente ampliar os conhecimentos cinéfilos da região, principalmente com o surpreendente Incêndios, elogiadíssimo filme Denis Villeneuve, que foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro no último Oscar.

O filme narra com brutal sensibilidade a busca por um passado arrancado de vidas que cruzam intimamente pelo seio de uma família, ou apenas ligação familiar. Adaptação da peça homônima de Wajdi Mouawad, autor de origem libanesa e radicado em Montreal, a trama se centra na iminência de duas cartas de Nawal Marwan (Lubna Azabal, o corpo, a mente e a alma do filme) entregues após sua morte aos filhos gêmeos, com o desejo de que procurem o pai e o irmão. Jeanne (Melissa-Desormeaus Poulin) e Simon (Maxim Gaudette) acreditavam que o primeiro estava morto e desconheciam a existência do segundo. Jeanne é a primeira a obedecer e parte para uma região marcada por embates entre cristãos e muçulmanos que devastaram o Líbano de 1975 a 1990. O rapaz não se interessa em descobrir o paradeiro pedido, o que reconsidera mais tarde. Durante a viagem, ela descobre, entre outras desgraças, que a mãe era uma guerrilheira, matou um político importante e teve os gêmeos na prisão, a mesma em que fora torturada e estuprada.

A narrativa, entremeada por uma montagem de sintonia perfeitamente condescendente, vai acompanhando esses dois pilares – do passado e do presente – para justamente desenvolver a intricada história que tanto nos joga na saga obstinada de Nawal como na escuridão emocional da procura de seus filhos. O roteiro expõe a complexidade dos termos mas nunca deixa o filme cair em didatismos ou pretensões dramáticas. Até pode, em poucas situações isoladas, dar uma forçada de barra em determinados ganchos, mas nada que a vida não tenha nos impondo como simples clichê.

O final, muito comentado pelo viés um tanto surpreendente, é de deixar perplexos, muito pelo enorme desgaste emocional que nós, espectadores, estamos ao trafegar por aqueles universos cruzados e que se atritam com as respostas que tanto buscavam.

Um filme brilhante ao domar suas premissas emocionais e conseguir transcendê-las da tela para aquilo que nos resta de sensibilidade. Um filme duro, pesado, mas que comprova o real alcance que o cinema tem em nosso (in)consciente.

[xrr rating=4.5/5]

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