Um filme pode se redimir pela assimilação alcançada? Acho pouco provável, mas é inegável que a força de um discurso identificável consegue torná-lo ao menos mais palatável a um senso crítico. “O Mordomo da Casa Branca” é, em sua essência, um filme dos mais cretinos e tendenciosos, como só Hollywood sabe reproduzir (em épocas de Oscar, em larga escala).
Lee Daniels é um diretor sensacionalista. As vezes, injeta humanidade nos seus extremos, como no tocante “Preciosa”, mas invariavelmente banaliza descaradamente as vísceras que retrata (como no equivocado “Obsessão”). Em seu novo filme, ele só se preocupa em fazer uma radiografia protocolar de Eugene Allen, mordomo negro que serviu presidentes na Casa Branca de 1952 a 1986, utilizando como base uma reportagem publicada no jornal Washington Post em 2008. Ao traçar a vida desse homem pela contextualização político-social de uma América cindida pela segregação em que negros era escorraçados como párias sociais cotidianamente.
Ao paralelizar a postura “domesticada” de Cecil Gaines (nome escolhido para representar a história real), com a urgência revoltosa de seu filho, o filme ganha uma significância que o sua própria estrutura não tem. Tendo todos os pecados possíveis, mas o que menos incomoda é o que mais anda sendo acusado: o de ser uma propaganda política pró Obama. Eugene (Cecil) e Obama são reflexos diretos do sangue derramado por seus êxitos. Nesse ponto, o longa é de uma verdade incômoda, principalmente para os negros. É a tal assimilação direta que destoa um pouco a trama de sua natureza medíocre. Forest Whitaker e Oprah Winfrey estão muito bem na trajetória épica de seus papeis. Vários atores tarimbados dão vida aos diferentes presidentes que ocuparam a Casa Branca, um verdadeiro desfile de presidentes com John Cusack como Nixon, James Marsden como Kennedy e Liev Schreiber como Lyndon Johnson. O ex-presidente Gerald Ford aparece apenas como imagem de arquivo e Jimmy Carter não é citado. Alan Rickman é discreto como Ronald Reagan. Noves fora, é Jane Fonda, como Nancy Reagan, que abrilhanta seus pouquíssimos minutos em cena.
Panfletário, previsível e até folhetinesco (o início do filme, sobre a infância do mordomo, além de não ser real, tendo sido criado pelo roteirista para romantizar a saga, é de uma artificialidade digna de novela da Record), “O Mordomo da Casa Branca” dilui sua perspectiva política e opta pela solenidade gratuita, para, talvez, aplacar o sentimento de culpa da sociedade americana.
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