Quando pensamos em um país muito miscigenado, é o Brasil o primeiro que vêm à nossa mente. Dificilmente pensamos na França, pois há todo o estereótipo romântico e refinado em torno deste povo. Mas basta um pouco mais de informação para sabermos que a França é um país tão miscigenado quanto o nosso, e abriga, em relativa harmonia, pessoas de religiões e origens muito diferentes. E o que acontece quando o choque de culturas é dentro de uma única família? É isso que o filme “Que mal eu fiz a Deus?” nos mostra, com muito bom humor.
Claude (Christian Clavier) e Marie (Chantal Lauby) já sofreram três grandes baques na vida, vendo suas filhas se casarem com filhos de imigrantes. Foi assim que eles conseguiram um genro muçulmano, um genro judeu e um genro asiático, que jamais se entendem quando se encontram. A última esperança do casal rico, provinciano e ultra-católico é a filha caçula, Laure (Elodie Fontan). Quando ela anuncia seu casamento, eles ficam em êxtase, mas a alegria passa ao descobrirem que o noivo da filha é um imigrante marroquino, Charles (Noom Diawara).
E não são apenas os pais de Laure que ficam incomodados com o casamento iminente: o preconceito vem também do lado oposto, e a família de Charles também desaprova a noiva francesa que o filho arrumou. Para piorar mais um pouco, os cunhados de Laure temem que a chegada de Charles na família acabe com a harmonia que foi pela primeira vez estabelecida entre eles, e assim decidem sabotar o casamento.
O filme é francês, mas bem que poderia ser uma comédia romântica norte-americana ou mesmo uma comédia de qualidade made in Brasil. Em momento nenhum a narrativa se torna estranha aos estrangeiros, e vemos nossos próprios preconceitos e problemas sociais escancarados na tela. Em um mundo globalizado, é raro o país onde não convivem pessoas de diferentes culturas, origens e religiões, e por isso o tema do filme ultrapassa qualquer fronteira.
A melhor jogada do filme sem dúvida foi aproximar as famílias de Charles e Laure no que eles têm de pior, ao mostrar que ambas tinham ressalvas quanto ao matrimônio. Claude, pai de Laure, e André (Pascal N’Zonzi), pai deCharles, são na verdade parecidíssimos em sua fúria sem razão e em seu pré-julgamento irado.
Talvez, em tempos de “politicamente correto”, tal filme não tivesse chance e Hollywood, mas em momento algum o diretor e co-roteirista Philippe de Chauveron perde a linha – ou a piada. Não é um filme necessariamente inteligente, e qualquer pessoa relaxada pode apreciá-lo sem precisar de todos os seus neurônios a postos. É provável que o filme não esteja em todas as salas de cinema, mas vale muito a pena escarafunchar os horários para poder vê-lo na tela grande – como 12 milhões de franceses já fizeram.
Trailer:
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