Resenha: Não me abandone jamais

Baseado no romance de mesmo nome de Kazuo Ishiguro, Não me abandone jamais (Never let me go) é dirigido por Mark Romanek, conhecido por dirigir videoclipes de Madonna, Fiona Apple, Beck e Sonic Youth, entre outros, além do longa Retratos de uma obsessão.
O filme conta a história de três jovens que têm suas vidas entrelaçadas graças ao colégio Hailsham. No começo, somos apresentados a uma informação: “O avanço na ciência médica veio em 1952. Médicos poderiam agora curar o incurável. Em 1967, a expectativa de vida passa dos 100 anos”. É a primeira pista para mostrar que esse não é mais um filme sobre triângulos amorosos.
A história é contada por Kathy H (Carey Mulligan). Somos apresentados aos personagens interpretados por um elenco infantil em 1978. Tommy é um garoto que sofre bullying na escola. Kathy se aproxima dele, e eles se tornam amigos. Tommy dá a ela uma fita cassete com a música Never let me go, título do filme. Ruth, ao perceber que a amiga está apaixonada, beija Tommy. Começa aí a solidão de Kathy.
Na escola, os alunos são incentivados a fazer pinturas que podem ser escolhidas para ficarem à mostra da galeria da Madame que vai visitar Hailsham. Tommy sente-se frustrado pois não tem talento para as artes.
Recebemos então outra pista. A nova tutora, Miss Lucy, faz um discurso para os alunos, dizendo que a maioria das pessoas pode se tornar o que quiser quando crescer: atores, professores, esportistas, motoristas de ônibus… mas não eles. Eles serão doadores e não chegarão nem mesmo à meia idade. Isso deixa os alunos assustados, e a tutora é mandada embora.
A história pula para 1985. Eles já saíram de Hailsham, têm 18 anos e mudam-se para os Chalés. Ruth (Keira Knightley) e Tommy (Andrew Garfield) continuam juntos, e Kathy é obrigada a conviver até mesmo com o barulho que o casal faz durante o sexo. Tommy procura Kathy para falar sobre um rumor: é possível conseguir um adiamento das doações se ficar comprovado que dois doadores estão apaixonados. O modo de comprovar essa paixão é através das pinturas que eles fizeram na infância em Hailsham para a galeria de artes.

É aí que o mistério da história começa a ter contornos mais claros. Certo dia, Ruth diz a Kathy que o casal amigo deles dos Chalés encontrou uma mulher que poderia ser sua “Original”. O espectador aí começa a montar o quebra-cabeças: os alunos de Hailsham são clones de pessoas normais, e só nasceram para servirem de doadores de órgãos. Aí faz sentido a frase inicial, que mostra um mundo livre de doenças.
Há uma opção para quem queira postergar a idade de ser doador: tornar-se assistente.  É o caminho que Kathy escolhe. Em 1994, eles já estão há muito tempo separados. Ela trabalha em um hospital e acaba encontrando com Ruth, que está bastante debilitada. Ela já fez duas doações e caminha para a terceira. Elas decidem encontrar Tommy, que também está debilitado devido às doações que já fez. Então Ruth, em uma tentativa de reparar seu erro, fornece a Kathy e Tommy o endereço da dona da galeria de artes que visitou uma vez o colégio Hailsham. Assim eles poderiam comprovar que estão apaixonados e postergar suas doações. Embora já seja tarde demais para Tommy, eles resolvem tentar.
Ao chegarem na casa da Madame, eles encontram a antiga diretora de Hailsham. Ela diz a eles que aquilo só passava de um boato. Na verdade, eles faziam as crianças desenharem só para saber se eles tinham alma.
Em diversos momentos, a câmera focaliza em um pássaro. A metáfora para a liberdade mostra como essas pessoas já tinham seus destinos traçados desde que nasceram e nada do que eles fizessem poderia mudar isso. Com uma belíssima epifania final, o filme nos faz questionar o amor, a amizade, o egoísmo e a aceitação do destino. O filme foi exibido na 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e estréia no Brasil no dia 18 de março de 2011.

[xrr rating=3.5/5]

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