Resenha: Santa Paciência

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Recentemente questionado sobre as grandes similaridades entre o roteiro de Se Beber Não Case e a sua continuação, o diretor Todd Philips respondeu que, na grande maioria dos casos, a história não é o principal elemento das comédias, e sim os personagens e as piadas. Apesar de não faltar bons exemplos que o desmintam, sua declaração não está de todo errada.

Santa Paciência é uma comédia que conta a história do taxista Mahmud, um muçulmano pouco praticante de origem paquistanesa que vive na Inglaterra com sua família. Ele nunca deu muita atenção à religião e prefere assistir televisão, jogos de futebol e bebericar cerveja – além de ter passado por uma fase new-romantic nos anos 80. Mas agora ele terá que se esforçar um pouco e demonstrar que vive sob a lei do Alcorão para que seu filho receba a benção do padrasto de sua noiva, um polêmico muçulmano ultra radical – personagem espelhado em integrantes da Al-Qaeda.

Mas a grande reviravolta na vida de Mahmud acontece mesmo quando, revirando nos pertences de sua recém-falecida mãe, descobre um documento que lhe revela ter sido adotado aos dois anos de idade. E o pior, sua origem é judaica. Com a ajuda de um taxista judeu americano, ele tenta conhecer um pouco mais da cultura judaica para que o rabino de seu pai biológico, que está muito doente num asilo, deixe-o ver o velho senhor, que não pode saber que seu filho é muçulmano.

Apesar de ter uma história cheia de reviravoltas e uma premissa bastante interessante, Santa Paciência está mais para uma comédia pastelão e não é um filme que se preocupa demais com sua narrativa, mas tem todo um apreço por seus personagens e suas piadas, além da vontade de desmistificar a vida de pessoas que vivem sua religião sem o menor traço de extremismo. Mahmud é um herói bobalhão adorável que consegue a simpatia do espectador atirando xingamentos e desaforos para todos os lados, insatisfeito com judeus e muçulmanos. Lenny, seu parceiro americano interpretado por Richard Schiff, acaba por se tornar um saboroso sidekick e também mentor. O humor do filme vai da comédia física e óbvia, a lá Zorra Total, ao refinado e tocante, inclusive fazendo algumas interessantes referências literárias. Claro que será melhor entendido para os que tenham algum conhecimento de ambas as religiões, mas não é nada necessário.

Infelizmente, para uma comédia que parecia não se levar à sério e apontava seu alvo de piadas para todos os lados, o último terço do filme – que, aliás, é bem mais longo do que o necessário – realmente deixa a peteca cair, pois é o momento em que diretor Josh Appignanesi sentiu-se obrigado a fazer o meloso discurso de que todos os judeus e muçulmanos, no fim das contas, são primos e que os extremistas não podem receber a atenção que lhes tem sido dedicada. Concordo com o discurso, mas aqui ficou forçado e arrastado.

A jornada de Mahmud para tentar se conectar com o judaísmo e ao mesmo tempo equilibrar sua criação como muçulmano e a pouca prática da religião é carregada nos ombros com incrível destreza pelo comediante Omid Djalili, que é exatamente o único motivo pelo qual não se torna um filme esquecível. Santa Paciência é uma comédia leve e cheia de pretensões, mas que pouco acrescenta a qualquer discussão.

[xrr rating=2/5]

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2 thoughts on “Resenha: Santa Paciência

  1. Nossa! Otimo titulo nacional para um filme sobre duas religiões que NÃO cultuam santos. ¬¬

  2. Hahahaa eu nem tinha me tocado nisso. E já tentei fazer um artigo sobre a tradução de títulos de filmes estrangeiros por aqui, mas nenhuma distribuidora quis colaborar.