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“Rogue One: Uma História Star Wars” – Crítica 2

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Depois que a Disney, graças a “Star Wars: O Despertar da Força”, conseguiu tirar a desconfiança de boa parte do público (e, principalmente, dos fãs) de seus planos para produzir novos filmes sobre a saga espacial mais famosa do cinema, um novo desafio surgiu para a Casa de Mickey Mouse: como fazer um novo capítulo, que não é a continuação imediata da história apresentada em 2015, mas que ainda assim mantém o interesse e é capaz de adicionar novos elementos à sua mitologia, ao mesmo tempo explicando alguns fatos que ficaram um pouco obscuros estes anos todos?

A resposta veio na forma de “Rogue One: Uma História Star Wars” (“Rogue One: A Star Wars Story”, EUA/2016), que mostra como foram roubados os planos da Estrela da Morte de uma maneira épica e até mesmo inovadora para a franquia, graças a uma direção inspirada e a um roteiro bem costurado, que cria momentos capazes de fazer um marmanjo barbado chorar que nem criança na saída do cinema.

Ambientada entre os episódios III e IV (“A Vingança dos Sith” e “Uma Nova Esperança”), a trama é centrada em Jyn Erso (Felicity Jones), que foi abandonada pelo pai, Galen Erso (Mads Mikkelsen), ainda criança e, por isso, cresceu como uma fora da lei. Até o dia em que foi resgatada pela Aliança Rebelde, que lhe deu uma missão: encontrar Saw Gerrera (Forest Whitaker), que a criou no passado e se tornou um líder radical demais até mesmo para os rebeldes.

Ao lado de Cassian Andor (Diego Luna), ela descobre que há documentos técnicos que expõem o ponto fraco da Estrela da Morte, poderosa estação espacial do Império, que foi projetada por seu pai, a mando de Orson Krennic (Ben Mendelshon). Junto de Cassian e um grupo de guerreiros – o ex-piloto imperial Bodhi Rook (Riz Ahmed), Baze Malbus (Wen Jiang) e seu parceiro Chirrut Îmwe (Donnie Yen), além do androide K2-SO (Alan Tudyk) – Jyn decide roubar os planos da Estrela da Morte, que podem ajudar a Rebelião a impor uma derrota importante ao Império Galático e trazer de volta a paz à galáxia.

O que mais chama a atenção em “Rogue One” é a forma encontrada pelo diretor Gareth Edwards (responsável pela péssima releitura de “Godzilla”) de dar um tom mais sombrio e ambíguo para o universo criado por George Lucas, sem, no entanto, deixar de lado os elementos que consagraram a série. O cineasta, assim como JJ Abrams fez em “O Despertar da Força”, trabalha com cenários e objetos reais, dando um aspecto mais realista que reflete até mesmo em alguns detalhes de ambientação dos personagens.

Numa cena, por exemplo, é possível notar que os Stormtroopers (soldados do Império, para quem não sabe) aparecem com seus uniformes sujos pela areia de uma região árida onde estão, assim como seus capacetes surgem com riscos, causados por conflitos anteriores.

Outro detalhe que se destaca é como Edwards filma suas cenas de batalha, especialmente no clímax da história no planeta Scariff. Os embates são incrivelmente emocionantes e remetem a confrontos já conhecidos da nossa História, como a ocorrida na praia da Normandia durante a Segunda Guerra Mundial e que foi retratada de forma impactante em “O Resgate do Soldado Ryan” em 1998.

Além disso, o cineasta não poupa o espectador ao mostrar que os disparos de laser ou bombardeios realmente causam dor e sofrimento para os personagens, tornando o filme um pouco mais adulto que os os capítulos anteriores. Ao mesmo tempo, o diretor mostra um cuidado em trabalhar elementos familiares aos fãs, não só dos filmes, mas também das animações, como a ótima “Star Wars: Rebels”.

Além da direção, vale destacar o roteiro, escrito por Chris Weitz e Tony Gilroy, que consegue a proeza de se manter coeso e interligar alguns fatos que ocorreram tanto em “A Vingança dos Sith” quanto em “Uma Nova Esperança” de forma convincente. A dupla, a partir de um argumento criado por John Knoll e Gary Whitta, responde a algumas questões que sempre ficaram mal esclarecidas, como o fato de uma estação espacial tão poderosa como a Estrela da Morte ter um ponto fraco tão elementar.

Isso sem falar no fato de que os roteiristas criaram personagens que o público se identifica e se preocupa com o destino deles, como a dupla Chirrut Îmwe (responsável por uma das melhores piadas do filme) e Baze Malbus, ou o androide K2-SO, que lembra um pouco o Paranoid Android de “O Guia do Mochileiro das Galáxias” com o seu mau humor e sua ironia.

No entanto, o texto tem algumas falhas, como a parte do meio que se arrasta um pouco, o que pode tornar o filme enfadonho para alguns espectadores (especialmente aqueles que não são tão admiradores da saga), ou a brusca transformação de Jyn de uma cética a uma defensora ferrenha da Rebelião. Outro problema que o filme possui é que, embora os efeitos especiais sejam incríveis nas cenas de batalhas aéreas ou nos confrontos em terra, eles não são tão eficazes quando trazem de volta um personagem importante do Episódio IV, através de captura de movimentos.

A ideia é muito boa, mas mostra que esse tipo de tecnologia ainda precisa de tempo para atingir um nível satisfatório. Mesmo assim, é um deleite ver o ator que o interpreta, já falecido, de volta à telona e tendo participação importante na trama. O que realmente impressiona é o trabalho de dublagem, que consegue o mesmo tom de voz do personagem (que não será citado aqui para não dar spoilers), visto pela primeira vez em 1977.

À frente do elenco, Felicity Jones teve a difícil tarefa de manter a tradição da franquia de desenvolver uma personagem feminina forte e corajosa. Embora não tenha o carisma de Daisy Ridley (Rey) ou Carrie Fisher (Princesa Leia), a atriz até que não se sai mal, especialmente nos momentos em que procura pistas pelo paradeiro do pai, ou na dinâmica que desenvolve com Diego Luna no desenrolar do filme, onde a suspeita passa para a confiança mútua de uma forma mais natural.

Luna, embora não tenha uma atuação marcante, passa bem os conflitos de Cassian Andor, mostrando que a Aliança Rebelde não é exatamente um grupo de pessoas bondosas e éticas, chegando a cometer atos moralmente condenáveis (como boa parte dos seres humanos).

Ben Mendelshon se destaca mais pelo visual e sua cara de mau do que pela vilania em si. A culpa nem é tanto dele, já que o roteiro está mais preocupado em mostrar Krennic como um carreirista empenhado em ser mais importante do que é no Império. Tanto que o vilão que realmente se destaca é o primeiro e único Darth Vader (que, mais uma vez, é dublado por James Earl Jones).

Embora apareça pouco, Vader rouba a cena e tem momentos realmente antológicos, capazes de levar o público à loucura. Mads Mikkelsen mostra que ainda está numa ótima fase e marca presença todas as vezes que surge na trama. O restante dos atores está bem. No entanto, o único que destoa negativamente é o vencedor do Oscar Forest Whitaker, que carrega demais no sotaque e nos movimentos exagerados de Saw Gerrera, prejudicando a ideia de que seu personagem é um rebelde extremista e intimidador.

Com os 30 minutos finais mais emocionantes dos recentes blockbuster, “Rogue One: Uma História Star Wars” mostra por que a franquia se mantém relevante mesmo quase 40 anos depois que fomos apresentados ao universo criado por George Lucas. O desfecho é tão acachapante que vai fazer o espectador bater palmas entusiasticamente e até mesmo se emocionar de verdade quando a sessão acabar. Isso é a verdadeira magia do cinema e renova o poder que a Força exerce sobre o público. Em outras palavras: pura magia.

Leia também: “Rogue One” propõe novo olhar sobre “Star Wars”, mas é refém do passado

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