“SCOOBY! O Filme” se sustenta no cheirinho de infância

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“SCOOBY! O Filme” foi planejado para ser a volta triunfal da turma do Scooby-Doo à telona, mas veio a pandemia e arremessou o filme para o Video On Demand. Primeiro nos Estados Unidos, onde chegou às plataformas digitais em maio, e agora chega ao Brasil com toda a pompa de um grande lançamento nos cinemas. E essa parece mesmo ser a tendência em 2020, muitas apostas dos estúdios indo direto para o consumo doméstico. O próximo da lista é “Mulan”, da Disney.

Dezoito anos depois de “Scooby-Doo”, o live action que contava com um Scooby digital e (poucos se lembram) tinha roteiro de James Gunn, a Warner decidiu apostar em uma animação com dubladores famosos como Zac Efron, Amanda Seyfried e Mark Wahlberg ao invés de um filme com atores e CGI.

Na trama, Salsicha ainda criança encontra Scooby e os dois se tornam grandes amigos. Em seguida conhecem Fred, Velma e Daphne. Anos mais tarde a turma enfrenta seu mistério mais desafiador: uma trama para libertar o cão fantasma Cerberus sobre o mundo. Enquanto eles correm para impedir esse dogpocalypse, a gangue descobre que Scooby tem um destino épico maior do que qualquer um poderia imaginar.

O principal trunfo de “SCOOBY! O Filme” é saber como espalhar o cheirinho de infância ao longo da trama. É um deleite para fãs de primeira hora da série animada dos anos 70 toda aquelas onomatopeias e dinâmica cartunesca fielmente reproduzidas. Isso além dos easter eggs por toda a parte. Há referências a bordões, situações clássicas, que mostra que os envolvidos no roteiro e na direção entendem de Scooby-Doo e de Hanna-Barbera. Ponto para Tony Cervone, estreante no comando de um longa depois de 30 anos trabalhando em diversos setores da animação.

Todavia, o cobertor quentinho da nostalgia não mascara, embora amenize bastante, as conveniências de roteiro e algumas resoluções bastante simplistas. Pixar e Dreamworks estabeleceram um padrão de qualidade para animações destinadas ao público infantil que deveria ser sempre seguido. É possível se dirigir aos pequenos privilegiando a inteligência e a engenhosidade do roteiro. Inclusive a Warner parece ter bebido na fonte do sucesso de estúdios concorrentes para construir alguns personagens. O vilão Dick Vigarista e seus pequenos autômatos trazem uma semelhança com Gru e os Minions, da mesma forma que o Falcão Azul remete à pretensão e à canastrice de Buzz Lightyear.

No que tange à técnica empregada na animação, não houve nenhum grande enlevo de ousadia ou experimentação. Apoia-se em um traço cartunesco na linha de animações de sucesso como Madagascar e Meu Malvado Favorito, fazendo um aproach com o estilo de traço e fisicalidade do desenho clássico e das produções da Hanna-Barbera.

Todavia os recursos da tridimensionalidade são bem aproveitados, dosando realismo com texturas de aspecto plástico, como brinquedos. Por ser pensado para cinema, o longa explora escalas maiores, não economizando em planos mais abertos (na falta de cinema, quanto maior for a TV melhor).

“SCOOBY! O Filme” é tão assertivo em proporcionar um afago na memória afetiva infantil dos fãs antigos que se esquiva de brincar com teorias criadas por eles depois de adultos, como Salsicha ser um adepto do “cigarrinho de artista” ou a sexualidade de Velma (reforçando o estereótipo da mulher brilhante e lésbica). Os dois filmes dos anos 2000 caíram na armadilha de explorar essas teses sem a menor sutileza, esvaziando a graça da especulação. Mas nesse aqui as piadas voltadas para o público adulto estão nas referências à cultura pop.

É definitivamente um filme para pais e filhos assistirem juntos nessa infinita quarentena, e que aponta para um universo cinematográfico compartilhado de Hanna-Barbera, um Barberaverso, o que pode render algo bastante interessante para o departamento de longas animados da Warner caso o estúdio leve adiante. E atenção para o dublador de Scooby na versão original legendada. É Frank Welker, que dublava o Fred nos desenhos dos anos 70 e 80.

Nota: Bom (3 de 5 estrelas)

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