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“Selvagens” – A retórica da retórica de Oliver Stone

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Oliver Stone tem por hábito fazer de seus filmes bandeiras de suas retóricas. Até aí, nada mais pertinente quando se coloca diante da arte para compreender e radiografar sua sociedade. O problema é quando cai na chatice do panfletário, o que vinha acontecendo com freqüência em seus últimos filmes. Selvagens é a retórica da retórica de Stone: ao mesmo tempo que reacende uma vitalidade perdida, esvazia uma espécie de substancialidade de seu discurso. O filme faz uma radiografia sobre como o comércio ilegal de entorpecentes é cruel na disputa por um dos mercados mais lucrativos do mundo. Chon (Taylor Kitsch) e Ben (Aaron Johnson, cada vez mais firme na carreira), recebem uma proposta de um cartel mexicano interessado na ótima qualidade da maconha cultivada por eles em estufas nos Estados Unidos.

A oferta de parceria revela-se mais uma imposição. O Cartel de Baja precisa da droga de Chon e Ben para manter seu poderio. Quando negam a proposta milionária, provocam a ira da caricata chefona do bando, Elena Sanches (Salma Hayek), que sabe bem como convencê-los do contrário: sequestrar O (abreviação de Ophelia, vivida com graça por Blake Lively despreza), a namorada low profile da dupla e narradora dos acontecimentos retratados.

Em suma, Selvagens é até um filme bom, porém procura mais espetacularizar a questão do tráfico, do que realmente aprofundá-la. Em se tratando de Oliver Stone, isso fica ainda mais evidente (o que já vinha sendo notado desde W.). O roteiro tem uma levada pop e divertida caindo na caricatura visual, porém essa “carnavalização” é consciente de um discurso que o diretor insiste em evocar. E para tal se valeu de uma vitalidade que poucas vezes vimos em sua filmografia. Esse, digamos, frescor aplaca a inconsistência de algumas soluções dramáticas, e o filme resulta mais satisfatório do que realmente o é.

Se olhar apenas como um exemplar de filme do mainstream hollywoodiano, sua satisfação será mais do que garantida; se sua exigência se valer de um histórico discursivo do diretor, talvez Selvagens não corresponda à astúcia de seu nome.

[xrr rating=3.5/5]

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