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"Sem Amor" e o seu sentido do desconforto

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Sem Amor é um filme de desconforto. O diretor Andrei Zvyagintsev tem elaborado bem seus filmes-metáforas para dar dimensão crítica a sua Rússia natal. Em Leviatã, seu longa anterior, colocava o dedo na ferida de maneira mais direta no tocante a instituição pública. Agora, versa sobre a sociedade, ainda refletindo as chagas sociopolíticas que a gravitam.

Um casal em crise explosiva no casamento negligência sumariamente o filho único. Ela, muita envolta na superficialidade das redes sociais, não esboça qualquer carinho pelo filho, que diz arrependida de não ter abortado. O pai, com outra família e nova mulher grávida, também mal o vê. Assim, o menino sofre as consequências do abandono emocional e Andrei ilustra isso numa cena muito comovente. Até que um dia ele desaparece, e a indiferença começa a ser relativizada. E dolorosamente transformada.

 

O roteiro trabalha em cima dos vazios. A priori de afetos, mas que se desenvolve para uma realidade de vazios existenciais, trabalhados em contrastes claros – Andrei demarca bem a empolgação dos pais com seus novos parceiros contrastando com a frieza com que lidam com a própria casa/família. Suas metáforas são sutis mas ajudam a reforçar o isolamento que aqueles personagens erráticos se afundam. Seja pela geografia de Moscou, seja pelo uso do silêncio, seja pelos coléricos diálogos em profusão. O desconforto se amplia no tom seco com que a narrativa vai decorrendo.

Obviamente que um filme chamado Sem Amor (Nelybov, no original russo e Loveless, na tradução em língua inglesa), trafegaria por essas bases ásperas. Por mais que as vezes queira reforçar de maneira excessiva seu subtexto (numa cena uma mulher diz “um brinde as selfies!”), o filme prescinde de conclusão para fazer sentido. E o seu sentido é rigorosamente profundo.

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