Os fins justificam os meios. Essa máxima maquiavélica (que não foi dita pelo filósofo absolutista, como muitos crêem, mas se depreende de sua obra O Príncipe) permeia a conduta da sociedade ocidental contemporânea regida pelo sistema capitalista que prega a constante competitividade e consecução dos objetivos não importa como. O resultado é o que interessa. Imagine se, tomando uma pílula, sua capacidade competitiva crescesse exponencialmente a ponto de atingir a gloria e a fortuna em pouquíssimo tempo? Essa fantasia que todos têm ou já tiveram em algum momento da vida é o mote de Sem Limites (Limitless E.U.A 2011) de Neil Burger (O Ilusionista), estrelado por Bradley Cooper (Se Beber Não Case e Esquadrão Classe A) e Robert DeNiro (Taxi Driver).
Na trama adaptada do romance Dark Fields de Alan Glynn, Eddie Morra (Cooper), um escritor em crise criativa, tem diante de si uma forma mágica de resolver esse problema: um remédio que faz com que uma pessoa use 100% da capacidade cerebral em vez dos míseros 10% que um ser humano alcança. Com apenas um comprimido ao dia, Morra é capaz de aprender línguas, fazer cálculos, absorver qualquer conteúdo com rapidez e eficiência assombrosas. Com os predicados adquiridos, se insere no mercado de ações e se torna o rei de Wall Street, atraindo as atenções de Carl Von Loon (DeNiro), mega empresário que o contrata para fechar um vultoso negócio. Porém, grandes poderes trazem grandes responsabilidades que se não administradas podem ter conseqüências desastrosas, e Morra sente isso na pele.
O filme parte de uma premissa muito interessante, tem um elenco no tom certo, uma ótima trilha sonora e a edição de Tracy Adams e Naomi Geraghty é mais do que acertada. As questões levantadas acerca das conseqüências de potencializar exponencialmente as capacidades de se atingir o sucesso são pertinentes e bem desenvolvidas, no entanto perdem muito da consistência no ato final. Quando o tema poderia ser concluído de forma crítica, intrigante, o que vemos é uma previsibilidade em descompasso com a introdução e o desenvolvimento. É como se o roteiro tivesse começado a ser escrito por alguém muito bem inspirado, mas que precisou parar com o trabalho no meio e foi substituído por um desses roteiristas de aluguel, burocráticos, tão comuns em Hollywood. Até a direção se torna ligeiramente preguiçosa a partir desse ponto.
Em suma, Sem Limites é um bom entretenimento e prende o espectador pelo ritmo ágil e por permitir que se imagine se tivesse aquela oportunidade do protagonista, mas os que esperarem um aumento no aprofundamento da questão à medida que o filme avança irão se decepcionar. Uma curiosidade: o filme tem uma participação de T.V. Carpio, a atriz que tinha assumido o papel de Arachne no eternamente adiado musical da Broadway: Spiderman Turn Off The Dark, acabou engrossando a lista dos quebrados e contundidos durante os ensaios.
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