Produções sobre futuros distópicos começam a mostrar sinais de desgaste. O primeiro indicativo foi notado no fim de 2015, quando “Jogos Vorazes: A Esperança – O Final” não foi o desfecho que a crítica e parte do público esperavam, o que refletiu em sua bilheteria nada espetacular, comparado com os outros filmes da série. Depois, veio a ridícula adaptação de “A 5ª Onda”, que desperdiçou o talento de artistas como Chlöe Grace Moretz, Liev Schreiber e Maria Bello.
Quem poderia aproveitar essa “maré baixa” é o pessoal envolvido com as versões da saga escrita por Veronica Roth, já que não tem mais concorrentes de peso após o fim da história de Katniss Everdeen. Só que, infelizmente, eles não aproveitaram a chance que tinham diante de si porque “A Série Divergente: Convergente” (“The Divergent Series: Allegiant”) é um filme sem muito brilho e possui uma dinâmica muito semelhante à dos capítulos anteriores, que pode até agradar aos fãs da franquia, mas não é capaz de criar novos admiradores.
Na trama, vemos como ficou Chicago após os eventos ocorridos no filme anterior, que levaram à derrota de Janine Matthews (Kate Winslet), a líder da Erudição. A cidade passa a ser comandada por Evelyn (Naomi Watts), que decide fazer execuções disfarçadas de julgamentos públicos dos que estavam do lado da antiga administradora. A nova realidade não agrada muito a divergente Tris (Shailene Woodley), assim como Quatro (Theo James), seu namorado e filho de Evelyn. Os dois decidem, então desobedecer às suas ordens e resolvem atravessar o muro que cerca o local, na tentativa de encontrar pessoas que morem além das fronteiras.
Auxiliados por Christina (Zöe Kravitz), Peter (Milles Teller), Tori (Maggie Q) e Caleb (Ansel Elgort), o irmão não muito confiável de Tris, os dois conseguem chegar a uma comunidade mais evoluída tecnologicamente, construída nos escombros de um antigo aeroporto, e comandada por David (Jeff Daniels). Lá, Tris ganha privilégios maiores do que seus colegas, que são remanejados para diferentes funções, e passa a trabalhar diretamente com David, que promete lhe dar respostas às perguntas sobre suas origens. Mas Quatro desconfia das boas intenções do novo amigo de sua amada e tenta descobrir o que ele realmente quer. Enquanto isso, em Chicago, Evelyn entra em confronto com Johanna (Octavia Spencer), que lidera a Amizade, e se mostra contra seus métodos, o que pode ter consequências devastadoras.
O principal problema do terceiro episódio das histórias de Tris Prior é que ele foi feito sem muito brilhantismo, onde até algumas questões mais complexas, como as alegorias ditatoriais vistas no exército de Evelyn, são tratadas de forma tão superficial que não dá nem para tentar criar uma reflexão sobre o assunto abordado. O roteiro, assinado por Noah Oppenheim, Adam Cooper e Bill Collage, não se preocupa em tornar o material mais instigante e falha até em tentar surpreender com suas reviravoltas, que se tornam totalmente previsíveis.
Para piorar, a direção de Robert Schwentke, que comandou “Insurgente”, não é muito criativa, tornando as cenas de ação triviais e, em algumas, fica visível a coreografia em algumas lutas, o que nunca é bom para esse tipo de filme. Além disso, fica visível a falta de ritmo, especialmente no clímax, ao contrário da segunda parte. Pelo menos as cenas românticas estão dentro do contexto da história e não são açucaradas nem bregas demais, o que é um alívio. Quanto à parte técnica, é uma pena ver que uma produção de milhões de dólares cometa erros grotescos, com cenas que ficam artificiais demais por causa de efeitos especiais fracos que falham em tornar reais cenários “futuristas” que na verdade foram feitos num estúdio e que os atores estão atuando com uma tela azul (ou verde) como plano de fundo. Num dado momento, por exemplo, alguns personagens lutam com a ajuda de drones que, em nenhum momento, dão a impressão de que são reais, como se fossem feitos há uns dez anos atrás.
O elenco, pelo menos, mantém a qualidade em suas performances. Shailene Woodley continua a manter Tris interessante, mesmo que o roteiro não a ajude muito para criar novas camadas para a sua personagem. Theo James não faz nada de muito diferente como Quatro, mas tenta controlar a sua canastrice. Miles Teller continua ótimo como o arrogante e ambíguo Peter e rouba a maioria das cenas em que aparece. Já Zöe Kravitz, Ansel Elgort e Maggie Q pouco têm a fazer no filme. Como esperado, Naomi Watts e Octavia Spencer têm mais destaque do que em “Insurgente” e mostram segurança em seus papéis, embora não sejam tão marcantes quanto poderiam ser. Jeff Daniels, que é a principal novidade entre os atores, se sai bem como David, que se mostra amável e carismático em alguns momentos e igualmente misterioso em outros.
No fim das contas, “A Série Divergente: Convergente” pode ser assistido sem sustos, mas também sem empolgação. O filme não possui nenhum momento realmente memorável e serve só para satisfazer os fãs menos exigentes da franquia, que só querem passar o tempo ao lado dos personagens que aprenderam a curtir, seja nos livros ou no cinema. Mas para quem espera encontrar algo a mais, pode mesmo se decepcionar. O jeito é esperar que a última parte, que deve se chamar “Ascendente”, não cometa os mesmos erros que aconteceram aqui e feche a saga de uma maneira mais eficiente do que aconteceu, por exemplo, com “Jogos Vorazes”. Até porque pode ser mesmo que os futuros distópicos no cinema se tornem paradoxalmente antiquados pela sua repetição de fórmulas.
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