Lendas urbanas são algo que desperta a curiosidade de muita gente, especialmente durante a pré-adolescência e seu período seguinte. Quem nunca brincou o jogo do copo, para falar com espíritos, na juventude? Ou se arrepiou ao ouvir a história do homem que, após conhecer uma sedutora mulher numa noitada, acordou numa banheira cheia de gelo e sem um dos rins, que teria sido roubado? O tema voltou a ficar em evidência em 2009, quando surgiu o Slender Man, criação de Eric Knudsen (que na internet usa o nome Victor Surge) para um concurso no fórum Something Awful, cujos competidores deveriam fazer imagens assustadoras. A invenção de Knudsen, que também desenvolveu textos sobre o personagem acabou viralizando e se tornando um fenômeno entre os jovens.
Fenômeno este que acabou tendo graves consequências que foram mostradas no documentário da HBO, “Cuidado com o Slenderman”, que trata do caso de duas meninas que feriram gravemente outra alegando que faziam uma espécie de tributo ao sinistro espectro. Hollywood também se interessou pela história e, ávida por criar novos ícones do terror, resolveu produzir uma ficção sobre essa versão moderna do Bicho Papão. É uma pena, no entanto que “Slender Man – Pesadelo sem Rosto” (“Slender Man”, 2018) falhe justamente nos quesitos mais importantes para filmes deste gênero: assustar e causar medo. O resultado final é nada menos que decepcionante, ainda mais em um ano que tivemos filmes tão impactantes como “Um Lugar Silêncioso” e “Hereditário”, ficando bem aquém do potencial que esse projeto apresentava.
Ambientada numa cidade do estado americano de Massachusetts, a trama mostra um grupo de amigas formado por Wren (Joey King), Hallie (Julia Goldani Telles), Chloe (Jaz Sinclair) e Katie (Annalise Basso) que, durante uma reunião na casa de uma delas, resolvem espantar o tédio procurando uma forma de conjurar o Slender Man. Após uma busca na internet, as meninas acabam chegando a um vídeo que garante invocar a esquálida criatura para aquele que assisti-lo. Algumas semanas depois, uma das garotas desaparece misteriosamente durante uma excursão, deixando as outras moças muito preocupadas. O problema só se intensifica quando as remanescentes passam a serem vítimas de estranhas alucinações e começam a investigar mais detalhes sobre o Slender Man, ao mesmo tempo em que tentam descobrir o paradeiro da amiga desaparecida e evitar que elas sejam novas vítimas da perigosa criatura.
Praticamente todos os elementos usados para fazer um bom filme de terror são mal utilizados em “Slender Man – Pesadelo sem Rosto”. A começar pela ineficaz direção de Sylvain White, que parece não conhecer muitos truques para criar uma atmosfera de suspense ou pavor, já que apela várias vezes para o mesmo tipo de susto, os já famigerados “jump scares”, mesmo quando não são realmente necessários. A repetição deste recurso é tanta que acaba gerando mais tédio do que alguma excitação. Além disso, o cineasta também tenta disfarçar sua pouca aptidão para esse trabalho com movimentos de câmera “modernos”, mas que já foram vistos em outras produções e provoca o efeito esperado. O diretor também não acerta ao conduzir suas protagonistas, tornando-as tão desinteressantes que o público nem se importa com o que vai acontecer com elas.
O principal problema do filme reside em seu roteiro, escrito por David Birke (“Elle”), que parece ter pego as melhores ideias de filmes como “O Chamado”, “A Bruxa de Blair” (o original) e “O Mistério de Candyman” para criar a sua história, mas sem nenhuma personalidade. O autor também peca em criar uma trama nada interessante e cheia de furos e perguntas não respondidas, como o destino de alguns personagens-chave. Isso sem falar na estranha decisão do roteirista de dar o protagonismo da trama para uma das meninas e, logo depois, passar para outra garota, deixando as coisas meio confusas.
Para piorar, o filme conta com uma fotografia (assinada por Luca Del Puppo) escura demais, principalmente nas cenas que ocorrem numa floresta, onde não dá para ver praticamente nada, fazendo com que o espectador não entenda o que está acontecendo nestas sequências. Os efeitos especiais também são bastante fracos e artificiais, deixando claro o mal trabalho da computação gráfica.
O elenco também não colabora para melhorar o resultado final do filme. Nenhuma das quatro protagonistas (Joey King, Julia Goldani Telles, Jaz Sinclair e Annalise Basso) têm atuações de destaque, o que reforça o desinteresse em torcer para que elas consigam vencer o macabro destino que lhes foi reservado. Taylor Richardson, que vive a irmã de Hallie, se sai um pouquinho melhor do que as atrizes principais, mas é pouco acionada. Já o espanhol Javier Botet faz o possível com seu trabalho corporal, porém não consegue deixar o seu Slender Man realmente assustador ou, no mínimo, intrigante. Ou seja, essa nova versão do Bicho Papão realmente não convenceu.
“Slender Man – Pesadelo sem Rosto” acaba se tornando um retrocesso como filme de terror e uma obra completamente esquecível por desperdiçar uma ideia com tanto potencial. Certamente, deve entrar na lista de piores do ano de muita gente e não tem como argumentar que isso é um exagero. No fim das contas, ele só serve mesmo para quem é facilmente impressionável e não assiste muito obras do gênero. Talvez o Homem Magro, criação do universo de “Invocação do Mal”, tenha mais sorte em seu possível filme solo do que o seu colega também esguio que, aqui, passou vergonha com uma historinha para boi dormir.
Filme: “Slender Man – Pesadelo Sem Rosto” (Slender Man)
Direção: Sylvain White
Elenco: Joey King, Julia Goldani Telles, Jaz Sinclair, Annalise Basso, Taylor Richardson e Javier Botet
Gênero: Terror
País: Estados Unidos
Ano de produção: 2018
Distribuidora: Sony Pictures
Duração: 1h 33min
Classificação: 12 anos
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