Em 1987 o hip hop já estava sedimentado na costa leste dos Estados Unidos, mas a costa oeste ainda assistia de camarote aquela nova cultura da comunidade negra urbana que se propagava dos guetos de Nova York para o resto do país e do mundo. A resposta da extremidade banhada pelo oceano Pacífico viria com o N.W.A, grupo da cidade de Campton, Califórnia. O nome era uma sigla de Niggaz Wit Attitude (crioulos com atitude) e foi o precursor do Gangsta Rap californiano que tomou conta das paradas nos anos 90.
A formação contava com Eazy E, Dr. Dre, Ice Cube, DJ Yella, MC Ren e Arabian Prince. No Brasil o NWA não fez o tanto barulho, as carreiras de Dr. Dre e Ice Cube é que tiveram alguma popularidade por aqui. Mas nos EUA foram um verdadeiro fenômeno e foram a voz representativa da comunidade negra contra o racismo e a constante repressão policial.
A trajetória do conjunto é contada no filme “Straight Outta Compton: A História do N.W.A” (Straight Outta Compton, EUA/2015), exibido no último Festival do Rio e que estreia neste fim de semana. E essa trajetória não foge ao que comumente se vê entre na origem de artistas do gênero: pobreza, problemas com a polícia, violência e tráfico e consumo de drogas. Um coquetel explosivo adicionado ao talento como compositores.
O filme trata desses cinco jovens, usando rimas brutalmente honestas e batidas graves, colocando a sua frustração e raiva sobre a vida no lugar considerado na época como o mais perigoso da América na mais poderosa arma que tinham: sua música. A trama também aborda o fato de que o homem pode deixar o gueto, mas o gueto não deixa o homem. Apesar da fama e do dinheiro, eles ainda enfrentam problemas com a polícia e lidam com desavenças do mesmo modo dos tempos de periferia.
Como toda cinebiografia, o tempo de duração se torna exíguo para retratar toda uma vida ou carreira do artista. No caso são 2 horas e 24 minutos (o corte original era de 3 horas e 30), mas ainda assim muita coisa foi condensada para nos dar de forma breve a ideia do que foram os quatro anos do N.W.A. E o roteiro de Jonathan Herman e Andrea Berloff cumpre a tarefa com retidão, dando o alicerce para a direção F Gary Gray, que em muitos momentos lembra John Singleton de ‘Boyz in the Hood’ (do qual Cube participou). A boa reconstituição de época e o elenco convincente também são trunfos. O’Shea Jackson Jr., filho de Ice Cube faz sua estreia como ator e interpreta o pai com fidelidade assustadora. Foram dois anos de preparação para o papel , por que Cube não queria que parecesse nepotismo.
O filho de Eazy E, Lil Eazy E também fez testes para interpretar o pai, mas Cube achou que não estava funcionando. Daí, assumiu a função de coach para Jason Mitchel que ficou com o papel. E para que os atores realmente entrassem no espírito, eles regravaram na íntegra o álbum que dá nome ao filme, Straight Outta Compton, o grande sucesso do grupo lançado em 1988.
Nesse ano, quando completa 20 anos da morte de Eazy E, vítima de HIV, o N.W.A ganhou um documentário com depoimento dos membros, ‘N.W.A & Eazy-E: The Kings of Compton’, outra boa forma de se inteirar da História do grupo.
‘Straight Outta Compton’ fez grande sucesso de bilheteria nos EUA esse ano e provavelmente não terá o mesmo apelo no Brasil, mas é uma boa oportunidade para conhecer, ou lembrar, a época anterior ao rap ostentação que passou a dominar as paradas de sucesso a partir do final dos anos 90.
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